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CARLOS HEITOR CONY
Os direitos do galo
RIO DE JANEIRO - Se tinha dúvidas, elas acabaram. Sempre me considerei
um ignorante, que nada sabia de nada, mas vez por outra, como ser humano sujeito aos mil acidentes da
carne, tinha a veleidade de achar que
não era bem assim, talvez soubesse
alguma coisa, nada de importante,
como o todo é maior do que a parte e
quem parte leva saudade de alguém.
Vai daí, fiquei sabendo que o Brasil
inteiro sabia que o marqueteiro oficial do governo é vidrado em brigas
de galo. Honestamente, eu não sabia.
Mais uma vez, vi escancarada a minha insistência em nada saber de nada, nem mesmo de fato tão transcendental.
Não sei por que, talvez entranhada
simpatia que tenho pelo presidente
Lula, pelo seu jeitão de ser e agir,
acho que ele também deve gostar de
brigas de galo, como gosta de frango
com polenta e do Zeca Pagodinho.
Dificilmente acharei um nexo entre
os galos que brigam e o prato de sustância que parece ser o preferido do
presidente da República. Tampouco
com o cantor que supre as suas necessidades estéticas e ao qual ele recorre
quando precisa de enlevo artístico e
amplidão espiritual.
De qualquer forma, sempre desconfio de fatos assim, quando se entra na
reta final de eleições. A presteza com
que a Polícia Federal age em determinados casos é suspeita. O tráfico de
armas e drogas continua deitando e
rolando, as falanges da PF nem estão
aí. Como estão, na hora e nas locações certas, quando se trata de criar
um fato que comprometa um candidato, ainda que obliquamente, ou
preventivamente.
Foi o caso daquela batida em cima
de Roseana Sarney, quando ela despontava como possível aspirante à
campanha presidencial. Se o Brasil
inteiro sabia das brigas de galo que
tanto fascinam o assessor presidencial (o único que não sabia é quem
vos escreve), fica a pergunta: desde
quando a Polícia Federal defende os
direitos humanos dos galos?
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