São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Os direitos do galo

RIO DE JANEIRO - Se tinha dúvidas, elas acabaram. Sempre me considerei um ignorante, que nada sabia de nada, mas vez por outra, como ser humano sujeito aos mil acidentes da carne, tinha a veleidade de achar que não era bem assim, talvez soubesse alguma coisa, nada de importante, como o todo é maior do que a parte e quem parte leva saudade de alguém.
Vai daí, fiquei sabendo que o Brasil inteiro sabia que o marqueteiro oficial do governo é vidrado em brigas de galo. Honestamente, eu não sabia. Mais uma vez, vi escancarada a minha insistência em nada saber de nada, nem mesmo de fato tão transcendental.
Não sei por que, talvez entranhada simpatia que tenho pelo presidente Lula, pelo seu jeitão de ser e agir, acho que ele também deve gostar de brigas de galo, como gosta de frango com polenta e do Zeca Pagodinho.
Dificilmente acharei um nexo entre os galos que brigam e o prato de sustância que parece ser o preferido do presidente da República. Tampouco com o cantor que supre as suas necessidades estéticas e ao qual ele recorre quando precisa de enlevo artístico e amplidão espiritual.
De qualquer forma, sempre desconfio de fatos assim, quando se entra na reta final de eleições. A presteza com que a Polícia Federal age em determinados casos é suspeita. O tráfico de armas e drogas continua deitando e rolando, as falanges da PF nem estão aí. Como estão, na hora e nas locações certas, quando se trata de criar um fato que comprometa um candidato, ainda que obliquamente, ou preventivamente.
Foi o caso daquela batida em cima de Roseana Sarney, quando ela despontava como possível aspirante à campanha presidencial. Se o Brasil inteiro sabia das brigas de galo que tanto fascinam o assessor presidencial (o único que não sabia é quem vos escreve), fica a pergunta: desde quando a Polícia Federal defende os direitos humanos dos galos?


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