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FERNANDO DE BARROS E SILVA
A voz rouca de Chaui
SÃO PAULO - Ao lado de José Arthur Giannotti, Marilena Chaui foi,
talvez, a figura que mais decisivamente contribuiu para fazer a ponte
entre o pensamento filosófico e o
debate público no país. Esse encontro se deu na imprensa, animado
pela resistência à ditadura.
No início dos anos 80, Chaui se
tornou a grande ideóloga do PT. Dizia que democracia significava criação permanente de direitos e reinvenção incessante da política
-ideias que havia emprestado do
francês Claude Lefort, crítico precoce do totalitarismo de esquerda.
Mas isso é história. Chaui há muito virou as costas à discussão pública. Passou a falar para dentro, reiterando para a militância o que ela
quer ouvir. Expiando a culpa dos
companheiros, tornou-se a ideóloga do petismo realmente existente.
Na última semana, num ato de
apoio a Dilma com artistas, Chaui
explicou ao "Terra Magazine" por
que eventos como aquele tinham
escasseado: "Fazia tempo que a
gente não tinha que gritar contra
nada". Eis a ideóloga no seu pior
papel, saindo da toca para chancelar não os êxitos do governo, mas os
abusos, a máquina de corrupção, o
patrimonialismo. Gritar por quê?
Chaui está entre os que dizem
que o mensalão foi invenção da imprensa. Usa a crítica à mídia para se
dispensar de examinar criticamente o PT. É um exemplo de embotamento sob o verniz da radicalidade.
É claro que a mídia deve ser criticada. A demissão da psicanalista
Maria Rita Kehl do jornal "O Estado
de S. Paulo" é deplorável sob qualquer aspecto. Há, sim, um antipetismo baixo e sensacionalista na
praça. Mas há também uma "mídia
do B", triunfalista e chapa branca,
em parte alimentada com dinheiro
público. E Erenice Guerra (fiquemos nesse exemplo doméstico) não
é uma armação de golpistas.
Essa é uma discussão que requer
honestidade intelectual e disposição para o confronto. Chaui optou
pela tutela do partido. Está mais
perto da pregação dogmática do
que da experiência do pensamento.
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