|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MUDANÇA NA GEÓRGIA
A renúncia de Eduard Shevardnadze da Presidência da
Geórgia representa antes de mais nada um ato de bom senso. Pelas informações disponíveis, ele poderia ter
ordenado uma ação militar contra os
manifestantes, mas preferiu atender
ao clamor popular e deixar o posto,
evitando um episódio de violência na
conturbada ex-república soviética.
O ex-presidente, agora com 75
anos, é um velho conhecido do Ocidente. Como chanceler de Mikhail
Gorbatchov, foi um dos responsáveis pelo fim da Guerra Fria. Estava
no poder na Geórgia desde 1992,
quando assumiu o governo para pôr
um fim ao período de instabilidade
que se seguiu ao desmantelamento
da União Soviética um ano antes.
Conseguiu evitar o pior na ocasião,
mas não foi capaz de equacionar os
graves problemas que afligem o país.
A lista de dificuldades é extensa.
Em seus quase 12 anos de governo,
Shevardnadze enfrentou rebeliões
separatistas em quatro províncias,
perdeu controle sobre a região da
Abkházia e sobreviveu a três tentativas de assassinato. Como várias outras ex-repúblicas soviéticas, a Geórgia tem problemas endêmicos com a
corrupção e o crime organizado. No
plano econômico, a situação é igualmente grave, com 20% da população
desempregada e 60% vivendo abaixo
da linha da pobreza. De pouco serviu
a ajuda econômica dos EUA, que
passaram à Geórgia cerca de US$ 1
bilhão ao longo da última década.
As fraudes que marcaram as eleições parlamentares de 2 de novembro foram o ingrediente que faltava
para deslanchar os protestos. Vale
observar que os principais líderes da
oposição foram até recentemente
partidários do ex-presidente.
Apesar da gravidade das acusações
de fraude eleitoral, Shevardnadze
possivelmente será julgado com
mais suavidade pela história do que
pelos manifestantes que o depuseram. É difícil saber se a mobilização
que mudou o poder poderá, mais à
frente, produzir resultados capazes
de reduzir as dificuldades do país.
Texto Anterior: Editoriais: EXPANSÃO E RISCOS Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: O país não pode hibernar Índice
|