São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2003

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MUDANÇA NA GEÓRGIA

A renúncia de Eduard Shevardnadze da Presidência da Geórgia representa antes de mais nada um ato de bom senso. Pelas informações disponíveis, ele poderia ter ordenado uma ação militar contra os manifestantes, mas preferiu atender ao clamor popular e deixar o posto, evitando um episódio de violência na conturbada ex-república soviética.
O ex-presidente, agora com 75 anos, é um velho conhecido do Ocidente. Como chanceler de Mikhail Gorbatchov, foi um dos responsáveis pelo fim da Guerra Fria. Estava no poder na Geórgia desde 1992, quando assumiu o governo para pôr um fim ao período de instabilidade que se seguiu ao desmantelamento da União Soviética um ano antes. Conseguiu evitar o pior na ocasião, mas não foi capaz de equacionar os graves problemas que afligem o país.
A lista de dificuldades é extensa. Em seus quase 12 anos de governo, Shevardnadze enfrentou rebeliões separatistas em quatro províncias, perdeu controle sobre a região da Abkházia e sobreviveu a três tentativas de assassinato. Como várias outras ex-repúblicas soviéticas, a Geórgia tem problemas endêmicos com a corrupção e o crime organizado. No plano econômico, a situação é igualmente grave, com 20% da população desempregada e 60% vivendo abaixo da linha da pobreza. De pouco serviu a ajuda econômica dos EUA, que passaram à Geórgia cerca de US$ 1 bilhão ao longo da última década.
As fraudes que marcaram as eleições parlamentares de 2 de novembro foram o ingrediente que faltava para deslanchar os protestos. Vale observar que os principais líderes da oposição foram até recentemente partidários do ex-presidente.
Apesar da gravidade das acusações de fraude eleitoral, Shevardnadze possivelmente será julgado com mais suavidade pela história do que pelos manifestantes que o depuseram. É difícil saber se a mobilização que mudou o poder poderá, mais à frente, produzir resultados capazes de reduzir as dificuldades do país.


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