São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O país não pode hibernar

SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pede, pela enésima vez, para ser cobrado apenas ao final do seu mandato. Desta vez foi no encontro com os sem-terra.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, segue a canção na entrevista à Folha publicada ontem: diz que os resultados da reforma do Judiciário só começarão a aparecer no fim do governo.
Interessante a transformação havida em petistas e companheiros de viagem, como o atual ministro da Justiça: antes, tinham a maior pressa do mundo em ver reformas (as suas, claro) postas em vigor. Passavam até a sensação de que tudo, no Brasil, tinha solução fácil e rápida, desde que houvesse "vontade política".
Agora, que a "vontade política" é a deles, perderam a pressa. Passam a sensação de que os cidadãos devem conformar-se em calar a boca até que o governo termine para que, finalmente, possa ser julgado. Ou, hipótese mais desagradável para quem tem necessidades insatisfeitas (e é a maioria), que hibernem até que, finalmente, os resultados comecem a aparecer. Ou então que adaptem seu ritmo de vida e de necessidades à moleza do governo.
Ora, as condições de um e de outros são radicalmente opostas: o governo é incompetente a ponto de não conseguir gastar o que tem direito a gastar fora das regras draconianas impostas pelo acordo com o FMI.
Já os cidadãos, em grande parte, não têm o que gastar fora do miserê que ganham e que encolheu ainda mais durante o primeiro ano do governo Lula.
Lembro-me de que, na sabatina promovida pela Folha com os candidatos em 2002, Lula expôs a sua idéia do que viria a ser o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, ou seja, a idéia de um debate com a sociedade sobre todos os temas.
Perguntei se não havia o risco de o governo se transformar em um simpósio permanente de Brasil, que discute a problemática em vez de buscar a "solucionática".
Está sendo bem pior do que meu ceticismo profissional indicava.


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