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CLÓVIS ROSSI
O país não pode hibernar
SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pede, pela enésima
vez, para ser cobrado apenas ao final
do seu mandato. Desta vez foi no encontro com os sem-terra.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, segue a canção na entrevista à Folha publicada ontem: diz
que os resultados da reforma do Judiciário só começarão a aparecer no
fim do governo.
Interessante a transformação havida em petistas e companheiros de
viagem, como o atual ministro da
Justiça: antes, tinham a maior pressa
do mundo em ver reformas (as suas,
claro) postas em vigor. Passavam até
a sensação de que tudo, no Brasil, tinha solução fácil e rápida, desde que
houvesse "vontade política".
Agora, que a "vontade política" é a
deles, perderam a pressa. Passam a
sensação de que os cidadãos devem
conformar-se em calar a boca até que
o governo termine para que, finalmente, possa ser julgado. Ou, hipótese mais desagradável para quem tem
necessidades insatisfeitas (e é a maioria), que hibernem até que, finalmente, os resultados comecem a aparecer.
Ou então que adaptem seu ritmo de
vida e de necessidades à moleza do
governo.
Ora, as condições de um e de outros
são radicalmente opostas: o governo
é incompetente a ponto de não conseguir gastar o que tem direito a gastar
fora das regras draconianas impostas
pelo acordo com o FMI.
Já os cidadãos, em grande parte,
não têm o que gastar fora do miserê
que ganham e que encolheu ainda
mais durante o primeiro ano do governo Lula.
Lembro-me de que, na sabatina
promovida pela Folha com os candidatos em 2002, Lula expôs a sua idéia
do que viria a ser o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social,
ou seja, a idéia de um debate com a
sociedade sobre todos os temas.
Perguntei se não havia o risco de o
governo se transformar em um simpósio permanente de Brasil, que discute a problemática em vez de buscar
a "solucionática".
Está sendo bem pior do que meu ceticismo profissional indicava.
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