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ELIANE CANTANHÊDE
Imitando Collor
BRASÍLIA - A bandeira brasileira estava hasteada no Palácio da Alvorada, mas o presidente Lula estava a
quilômetros dali, na Granja do Torto. Algo saiu errado.
Pelo protocolo e pela tradição, a
bandeira hasteada significa que o
presidente da República está "em casa" (Alvorada) ou "no trabalho"
(Planalto). Ao sair, a bandeira desce.
Se a bandeira está hasteada, mas o
presidente está fora, ou os funcionários subalternos são uns relapsos, ou
algum funcionário graduado (o mais
graduado de todos?) quis enganar
um trouxa. Ou milhões de trouxas.
Na segunda hipótese, fica feio para
Lula, porque a única conclusão possível é que ele estava tentando driblar
todo mundo para fazer uma reunião
sigilosa com 20 ministros, em pleno
sábado e em plena Brasília! Além de
ridículo, é preocupante.
É como se o maior mandatário da
nação -termo chique, de acordo
com o novo figurino de Lula- estivesse se divertindo com as nossas caras ou escondendo alguma coisa grave com seus ministros -ministros do
PT, aliás, com uma ou outra exceção.
Esconder de quem? De você? Dos jornalistas? Dos ministros de outros partidos, ostensivamente excluídos?
Ontem, o secretário de Imprensa,
Ricardo Kotscho, soltou nota à imprensa pedindo desculpas "pelos desencontros e falta de informações".
Kotscho foi elegante, tentando atrair
para ele e para sua secretaria uma
culpa que está muito acima. Mas não
cola. Se insiste em manter seus improvisos e suas metáforas, Lula precisa ouvir a voz da razão e parar com
esse tipo de segredo de polichinelo.
Homens públicos devem explicações públicas, e o presidente de plantão não é dono nem dos palácios,
nem das liturgias, nem dos protocolos. Não pode tratar tudo como se fosse sua casa, ou casa-da-mãe-joana.
Quem se divertia deixando a bandeira hasteada e fugindo do Alvorada em barco, helicóptero e carrões era
Fernando Collor de Mello. Até aqui,
o governo Lula vinha repetindo FHC
em tudo. Duro mesmo vai ser se começar a repetir Collor. Já pensou?!
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