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RUY CASTRO
Tiros e clichês
RIO DE JANEIRO - Na quarta-feira passada, em Jardim Mirna, zona sul de São Paulo, um agente e um
carcereiro da Polícia Civil, fora do
horário de serviço, tomaram um
Gol emprestado de um informante
e sequestraram dois traficantes de
drogas, ambos de 19 anos, para extorqui-los. Os jovens portavam
grande quantidade de maconha, cocaína e crack. Metros depois, o carro foi cercado por quatro amigos
dos traficantes, em duas motos, que
tentaram libertá-los, atirando contra os policiais.
O carcereiro reagiu e disparou
três vezes. O agente não teve tempo. Das mais de 20 balas que acertaram o Gol, várias atingiram o policial, que morreu ali mesmo. A cena
se deu em frente a um colégio, na
hora da saída dos alunos. No tiroteio, um estudante de 17 anos levou
uma bala perdida na cabeça e também morreu. Duas de suas colegas
foram feridas, uma na perna, outra
na barriga.
Essa ocorrência -apenas uma
entre outras que a mídia publica
com certo tédio, talvez porque ninguém saiba onde fica Jardim Mirna- comporta uma quantidade de
agravantes a fazer pensar. É como
se fosse uma suma do que deve
acontecer com regularidade no
submundo, mas tão distante de
nossos olhos que não tomamos conhecimento. Vamos ler de novo.
Policiais fora de serviço cercam e
capturam traficantes, não para
prendê-los, mas para extorqui-los
-quem é o bandido? Os traficantes
são muito jovens; os amigos que
acorrem em sua defesa também.
Não faltam carros, motos e armas
no pedaço -todo mundo está bem
equipado. O tiroteio se dá perto de
uma escola e, como sói, na hora de
saída dos alunos-um estudante
morre e duas saem feridas.
Se fosse cinema ou novela, o roteirista se envergonharia de juntar
tantos clichês numa sequência.
Mas a realidade é grossa, não tem
essa sofisticação.
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