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São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Elogios, só para variar

SÃO PAULO - Já que é Natal, dois elogios, só para variar.
O primeiro é para José Serra, presidente nacional do PSDB, que teve a decência de defender um adversário político torpemente acusado. Refiro-me ao deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), acusado de participação em sessão de tortura por um dos presos do caso Celso Daniel, o prefeito de Santo André sequestrado e morto em 2002.
"Diferenças políticas à parte, não se pode chegar à loucura de dar crédito a isso", disse Serra. Tem razão. Conheço Greenhalgh há uns 30 anos, participamos juntos de delicadas investigações sobre casos de violação a direitos humanos nos anos de chumbo (no Brasil e no Cone Sul) e, como Serra, posso dizer que a acusação é loucura (ou coisa pior).
Se se quiser demonstrar que a morte de Celso Daniel tem a ver com a corrupção na sua prefeitura, está na hora de apresentar provas, em vez de torpezas desse calibre.
O segundo elogio é para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que anteontem, em dois momentos, demonstrou um senso de realismo que parecia perdido.
Primeiro, ao dizer que o desemprego pode aumentar mesmo com o crescimento da economia, por causa da melhoria da produtividade.
Segundo, ao admitir, para os catadores de material reciclável, que, se eles não cobrarem, "a gente vai deixando parar". Ou seja, sem pressão de baixo, o governo (qualquer governo, inclusive o de Lula) acomoda-se e as coisas não andam. Só andam, aliás, as coisas que o andar de cima nem precisa pedir.
É óbvio que o realismo que Lula demonstrou nesses dois momentos não resolve problema algum. Mas é mais fácil solucionar problemas quando o fio terra do presidente da República não está desconectado, como estava, por exemplo, quando prometeu o "espetáculo do crescimento" que até agora não veio.


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