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CLÓVIS ROSSI
Elogios, só para variar
SÃO PAULO - Já que é Natal, dois elogios, só para variar.
O primeiro é para José Serra, presidente nacional do PSDB, que teve a
decência de defender um adversário
político torpemente acusado. Refiro-me ao deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), acusado de participação em sessão de tortura por um
dos presos do caso Celso Daniel, o
prefeito de Santo André sequestrado
e morto em 2002.
"Diferenças políticas à parte, não se
pode chegar à loucura de dar crédito
a isso", disse Serra. Tem razão. Conheço Greenhalgh há uns 30 anos,
participamos juntos de delicadas investigações sobre casos de violação a
direitos humanos nos anos de chumbo (no Brasil e no Cone Sul) e, como
Serra, posso dizer que a acusação é
loucura (ou coisa pior).
Se se quiser demonstrar que a morte de Celso Daniel tem a ver com a
corrupção na sua prefeitura, está na
hora de apresentar provas, em vez de
torpezas desse calibre.
O segundo elogio é para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que anteontem, em dois momentos, demonstrou um senso de realismo que
parecia perdido.
Primeiro, ao dizer que o desemprego pode aumentar mesmo com o
crescimento da economia, por causa
da melhoria da produtividade.
Segundo, ao admitir, para os catadores de material reciclável, que, se
eles não cobrarem, "a gente vai deixando parar". Ou seja, sem pressão
de baixo, o governo (qualquer governo, inclusive o de Lula) acomoda-se e
as coisas não andam. Só andam,
aliás, as coisas que o andar de cima
nem precisa pedir.
É óbvio que o realismo que Lula demonstrou nesses dois momentos não
resolve problema algum. Mas é mais
fácil solucionar problemas quando o
fio terra do presidente da República
não está desconectado, como estava,
por exemplo, quando prometeu o
"espetáculo do crescimento" que até
agora não veio.
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