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VINICIUS TORRES FREIRE
450 anos de ruínas
SÃO PAULO - Quem ainda agüenta tanto amor e baboseio por São Paulo? Quando os paulistanos voltaremos sem pudor ao normal? A atropelar pedestres na faixa de pedestres?
Jogar lixo no chão, pichar paredes?
Entupir rios de química e de esgotos
de encanamentos ilegais?
Mas viva o centro! Olhem como o
centro melhora! Olhem para o outro
lado, para que devastem à vontade
casas e vilas simpáticas de Pinheiros,
Pompéia, Perdizes, Vila Romana e
Vila Madalena, como se fez com
Moema. Sim, precisamos de mais
prédios de péssima arquitetura!
Quando não podemos destruir os
bairros bons, tapamos a fachada das
casas simpáticas com paredões de alvenaria e letreiros horrendos. Ou fazemos Minhocões! São Paulo não pode parar de ser feia!
Feia e burra! Qual o grande presente da elite nos 450 anos? Águas dançantes coloridas! Arlequinal!
Por que não se cria um dos melhores museus de arte moderna do mundo, juntando os acervos do MAC e do
MAM num prédio decente e grande o
bastante para exibir as obras?
Por que ninguém sugeriu implodir
os pavorosos e inúteis prédios da Assembléia Legislativa e do Exército,
que roubaram espaço do Ibirapuera,
um dos poucos lugares agradáveis e
democráticos da cidade?
Por que não se fazem praças na cidade? Medo de que miseráveis montem ali barraquinhos de plástico preto e estopa? Mas quase todos os crioulos foram expulsos para tão longe (esse foi o verdadeiro plano diretor de
São Paulo)!
E o que faz o mercado financeiro
paulistano por São Paulo? Muda a
sede dos bancos para outras cidades,
a fim de pagar menos imposto, o que
também consegue na base da esmola
da "responsabilidade social". Por que
não banca um centro universitário
para pensar o futuro urbanístico e
econômico da cidade?
Museu, universidade, praça, parque, coragem de investir em bairros
desertos, em arquitetura, em transporte coletivo, em convívio democrático? Nada disso de abandonar uma
tradição de 450 anos de ruínas.
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