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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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CONFRONTO NECESSÁRIO

A estratégia de George W. Bush para obter o aval do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas a uma intervenção militar no Iraque tem algo de truculento. Segundo informações publicadas pelo jornal "The Washington Post", diplomatas dos EUA estão dizendo a seus colegas de CS que a decisão de ir à guerra já está tomada e que cabe a seus países apoiá-la para preservar a imagem da ONU, que ficaria comprometida na hipótese de Washington engajar-se numa ação militar contra decisão do Conselho.
Infelizmente, essa possibilidade é concreta. Bush já deu inúmeras indicações de que recorrerá a todos os meios para destruir Saddam Hussein. O simples fato de o Pentágono ter enviado uma força de mais de 150 mil homens à região do golfo Pérsico já é um indício mais do que eloquente das intenções belicosas da Casa Branca. Depois de movimentar um contingente dessas proporções, retornar com menos do que a deposição de Saddam possivelmente seria um suicídio político para Bush.
A situação é delicada, mas isso não significa que os países membros do CS tenham de conformar-se com a imposição norte-americana. Eles podem apoiar o memorando proposto pela França, que prevê mais quatro meses para os inspetores de armas realizarem seu trabalho. Se, mesmo sem apoio internacional, Bush insistir na ação militar, deverá arcar com o ônus político do unilateralismo.
A ONU certamente sairia abalada de um confronto dessa natureza, mas esse talvez seja um trauma necessário para o futuro fortalecimento da organização, que precisa demonstrar que tem independência para levar às últimas consequências uma decisão que desagrade à única superpotência militar do planeta.
É verdade que uma ONU sem os EUA seria um organismo relativamente inócuo, mas também é verdade que Washington depende do mundo para quase tudo, do comércio à segurança. Se a maioria da comunidade internacional está convicta de que a guerra não é a melhor opção, pode e deve confrontar os EUA.


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