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CONFRONTO NECESSÁRIO
A estratégia de George W.
Bush para obter o aval do Conselho de Segurança (CS) das Nações
Unidas a uma intervenção militar no
Iraque tem algo de truculento. Segundo informações publicadas pelo
jornal "The Washington Post", diplomatas dos EUA estão dizendo a
seus colegas de CS que a decisão de ir
à guerra já está tomada e que cabe a
seus países apoiá-la para preservar a
imagem da ONU, que ficaria comprometida na hipótese de Washington engajar-se numa ação militar
contra decisão do Conselho.
Infelizmente, essa possibilidade é
concreta. Bush já deu inúmeras indicações de que recorrerá a todos os
meios para destruir Saddam Hussein. O simples fato de o Pentágono
ter enviado uma força de mais de 150
mil homens à região do golfo Pérsico
já é um indício mais do que eloquente das intenções belicosas da Casa
Branca. Depois de movimentar um
contingente dessas proporções, retornar com menos do que a deposição de Saddam possivelmente seria
um suicídio político para Bush.
A situação é delicada, mas isso não
significa que os países membros do
CS tenham de conformar-se com a
imposição norte-americana. Eles podem apoiar o memorando proposto
pela França, que prevê mais quatro
meses para os inspetores de armas
realizarem seu trabalho. Se, mesmo
sem apoio internacional, Bush insistir na ação militar, deverá arcar com
o ônus político do unilateralismo.
A ONU certamente sairia abalada
de um confronto dessa natureza,
mas esse talvez seja um trauma necessário para o futuro fortalecimento
da organização, que precisa demonstrar que tem independência para levar às últimas consequências
uma decisão que desagrade à única
superpotência militar do planeta.
É verdade que uma ONU sem os
EUA seria um organismo relativamente inócuo, mas também é verdade que Washington depende do
mundo para quase tudo, do comércio à segurança. Se a maioria da comunidade internacional está convicta de que a guerra não é a melhor opção, pode e deve confrontar os EUA.
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