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FERNANDO RODRIGUES
Falta vergonha
BRASÍLIA - É dura de engolir a lassidão com que Câmara e Senado tratam os grampos ilegais da Bahia.
Há indícios em profusão de que um
senador, Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA), tem envolvimento com os
grampos. Agora, sabe-se que um sobrinho seu, o deputado Paulo Magalhães (PFL-BA), é citado pela Polícia
Federal como portador de uma oferta
indecorosa a uma juíza ligada ao caso. Ambos negam tudo.
O que faz a Câmara? Nada. Alguns
deputados assinaram um requerimento a favor de uma CPI. Ninguém
com poder na cúpula petista nutre a
menor simpatia pela estratégia.
No Senado, a situação é pior. Há
condições claras para que o Conselho
de Ética instale um processo para
analisar o caso. O que faz o presidente da Casa, o senador José Sarney
(PMDB-AP)? Nada. Nem sequer cobra dos partidos o preenchimento de
9 das 15 vagas abertas no conselho.
A desculpa de que é preciso esperar
a apuração da Polícia Federal é só isso mesmo, uma desculpa. Nada impede o Senado de ao mesmo tempo
fazer seu serviço.
No último fim de semana, uma comissão de senadores foi impedida de
acompanhar o inquérito na Bahia.
Os representantes do Senado foram
humilhados. Sarney ficou calado.
O Congresso já carrega a pecha de
ter emendado a Constituição em
1997 com os votos de deputados vendidos por R$ 200 mil em dinheiro (o
caso da compra de votos a favor da
reeleição). Agora, esmera-se em
manter a imagem ruim.
Sempre tem um congressista estufando o peito para dizer que muitos
senadores e deputados perderam
seus mandatos nos últimos anos.
"Cortamos na carne", é o jargão costumeiro. É verdade, mas é pouco.
Essa gente não percebe que, ao não
fazer nada para apurar o Bahiagate,
apenas corrobora a noção que parte
da sociedade tem do Congresso
-qual seja a de que falta vergonha a
muitos que ali estão para representar
o eleitor de seus Estados.
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