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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Falta vergonha

BRASÍLIA - É dura de engolir a lassidão com que Câmara e Senado tratam os grampos ilegais da Bahia.
Há indícios em profusão de que um senador, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), tem envolvimento com os grampos. Agora, sabe-se que um sobrinho seu, o deputado Paulo Magalhães (PFL-BA), é citado pela Polícia Federal como portador de uma oferta indecorosa a uma juíza ligada ao caso. Ambos negam tudo.
O que faz a Câmara? Nada. Alguns deputados assinaram um requerimento a favor de uma CPI. Ninguém com poder na cúpula petista nutre a menor simpatia pela estratégia.
No Senado, a situação é pior. Há condições claras para que o Conselho de Ética instale um processo para analisar o caso. O que faz o presidente da Casa, o senador José Sarney (PMDB-AP)? Nada. Nem sequer cobra dos partidos o preenchimento de 9 das 15 vagas abertas no conselho.
A desculpa de que é preciso esperar a apuração da Polícia Federal é só isso mesmo, uma desculpa. Nada impede o Senado de ao mesmo tempo fazer seu serviço.
No último fim de semana, uma comissão de senadores foi impedida de acompanhar o inquérito na Bahia. Os representantes do Senado foram humilhados. Sarney ficou calado.
O Congresso já carrega a pecha de ter emendado a Constituição em 1997 com os votos de deputados vendidos por R$ 200 mil em dinheiro (o caso da compra de votos a favor da reeleição). Agora, esmera-se em manter a imagem ruim.
Sempre tem um congressista estufando o peito para dizer que muitos senadores e deputados perderam seus mandatos nos últimos anos. "Cortamos na carne", é o jargão costumeiro. É verdade, mas é pouco.
Essa gente não percebe que, ao não fazer nada para apurar o Bahiagate, apenas corrobora a noção que parte da sociedade tem do Congresso -qual seja a de que falta vergonha a muitos que ali estão para representar o eleitor de seus Estados.


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