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CLAUDIA ANTUNES
Bricabraque
SÃO PAULO - Desde que a Goldman Sachs inventou a sigla Bric (de
Brasil, Rússia, Índia e China, países
que estariam destinados a emergir
até a próxima década), as comparações pesam como uma maldição.
Volta e meia vem a advertência de
que estamos ficando para trás. O
problema é que, como cada analista
vê o lado que lhe interessa, nunca se
sabe diante de quais China e Índia
devemos nos curvar.
Pode ser a China que ignora direitos trabalhistas e reserva relativamente pouco do seu Orçamento para gastos sociais como saúde e Previdência, ou pode ser aquela que
controla o câmbio, se lixa para as
patentes estrangeiras e não se abala
com a choradeira de investidores
sobre "segurança jurídica".
Pode ser a Índia dos bolsões de alta tecnologia, nutridos pelas mesmas pesquisas que fizeram do país
uma potência nuclear. Ou pode ser
a Índia das inundações de miseráveis, que não se entregam à criminalidade -especulam alguns- porque acreditam em carma. A Rússia,
que decretou moratória em 1998 e
surfa na onda dos combustíveis caros, não é tão mencionada.
Em qualquer caso, a democracia
costuma passar longe do foco das
comparações -embora, no jogo do
triunfo econômico, os desafios que
ela traz não sejam só um detalhe.
O Brasil é herdeiro de uma tradição na qual, mais para o bem do que
para o mal, a incorporação do conjunto da população à política só redundou em algum equilíbrio institucional e democrático quando
acompanhada de direitos sociais e
econômicos. É uma questão se chegamos muito tarde para isso -mas
qual seria a alternativa?
Se os meios escolhidos para atingir tal equilíbrio se tornaram, aqui,
um engodo -uma Constituição de
Estado previdenciário junto com
uma espantosa desigualdade-, é o
caso de procurar saídas que lidem
com demandas e restrições próprias à nossa realidade. Se há alguma coisa a aprender com China ou
Índia, trata-se justamente de rejeitar imitações e conselhos baratos.
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