São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

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CLAUDIA ANTUNES

Bricabraque

SÃO PAULO - Desde que a Goldman Sachs inventou a sigla Bric (de Brasil, Rússia, Índia e China, países que estariam destinados a emergir até a próxima década), as comparações pesam como uma maldição. Volta e meia vem a advertência de que estamos ficando para trás. O problema é que, como cada analista vê o lado que lhe interessa, nunca se sabe diante de quais China e Índia devemos nos curvar.
Pode ser a China que ignora direitos trabalhistas e reserva relativamente pouco do seu Orçamento para gastos sociais como saúde e Previdência, ou pode ser aquela que controla o câmbio, se lixa para as patentes estrangeiras e não se abala com a choradeira de investidores sobre "segurança jurídica".
Pode ser a Índia dos bolsões de alta tecnologia, nutridos pelas mesmas pesquisas que fizeram do país uma potência nuclear. Ou pode ser a Índia das inundações de miseráveis, que não se entregam à criminalidade -especulam alguns- porque acreditam em carma. A Rússia, que decretou moratória em 1998 e surfa na onda dos combustíveis caros, não é tão mencionada.
Em qualquer caso, a democracia costuma passar longe do foco das comparações -embora, no jogo do triunfo econômico, os desafios que ela traz não sejam só um detalhe.
O Brasil é herdeiro de uma tradição na qual, mais para o bem do que para o mal, a incorporação do conjunto da população à política só redundou em algum equilíbrio institucional e democrático quando acompanhada de direitos sociais e econômicos. É uma questão se chegamos muito tarde para isso -mas qual seria a alternativa?
Se os meios escolhidos para atingir tal equilíbrio se tornaram, aqui, um engodo -uma Constituição de Estado previdenciário junto com uma espantosa desigualdade-, é o caso de procurar saídas que lidem com demandas e restrições próprias à nossa realidade. Se há alguma coisa a aprender com China ou Índia, trata-se justamente de rejeitar imitações e conselhos baratos.


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