São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O silêncio da cultura
JORGE DA CUNHA LIMA
No Fórum de Secretários da Cultura, quando o presidi em 84, obtivemos a promessa de Tancredo de que o Orçamento nacional da Cultura estaria num patamar mínimo de 1% daquele instrumento. A promessa, depois de sua morte, despencou a níveis tão insignificantes que é melhor mesmo deixar ao ministério seu papel emblemático e passar os tostões que restem à Casa Civil ou, se necessário, ao Ministério da Fazenda. O do Gil, felizmente, é o Ministério da Re-Fazenda. Gilberto Gil já é em si mesmo um emblema, o que barateia a conta. Está trabalhando duro. Com os pés na terra e a cabeça onde sempre a costuma pôr. É verdade que herdou um ministério do qual Collor subtraiu o espírito e as instituições, deixando-lhe apenas a ossatura burocrática. E todos nós sabemos que essa é a parte do corpo que menos interessa a uma instituição cultural. Em São Paulo, Claudia Costin assumiu para dar uma estrutura jurídica, institucional e financeira a inúmeros projetos e instituições artísticos e culturais criados pelo governo, colocando-os em pé e à disposição de uma sociedade tão necessitada de arte. Também está trabalhando duro. Precisa do apoio do Estado, da sociedade e de todos nós. Abstraídas essas referências ao real nacional, é verdade que em toda parte, diante da enorme crise ética e mental que o mundo atravessa, os intelectuais estão calados demais, os artistas taciturnos e os acadêmicos anestesiados com as próprias teses. Há, contudo, uma luz no fim do túnel. Uma luz que se renova em todos os palcos do mundo, como essa representação de Isabelle Huppert, emoção que corrige a razão. E mesmo quando o enredo nos leva à morte, a luz da arte permanece viva. E indispensável. Jorge da Cunha Lima, 71, jornalista e escritor, é diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta e presidente Abepec (Associação Brasileira das Emissoras Públicas Educativas e Culturais). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Saulo Ramos: Juros e os três Fernandos Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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