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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Show de violências
SÃO PAULO - A percepção de que
a violência passou a figurar no topo
das aflições dos brasileiros era algo
óbvio para quem acompanha os rumos do noticiário nacional nos últimos meses. Faltava-lhe apenas a
confirmação estatística, obtida pelo
Datafolha e divulgada ontem por
este jornal. O desemprego, que reinou durante todo o primeiro mandato de Lula como maior problema
do país, foi desbancado: hoje 31%
dos brasileiros pedem em primeiro
lugar por segurança; eram 16% em
dezembro. Sim, algo mudou de figura muito rapidamente.
O que isso nos faz pensar? Seria
decerto simplista atribuir tal resultado apenas à exposição do assunto
na mídia. Mas ignorar o alcance
desse aspecto seria outro erro,
maior. Parece claro, para dar logo
nome aos bois, que a Rede Globo capitaneia, pelo menos desde a morte
de João Hélio, uma campanha por
"justiça já" que só tende a reforçar,
ainda que involuntariamente, o caldo de cultura a favor do aprofundamento das injustiças do país.
Há no ar (e na TV) um clima de
"justiça justiceira", uma mistura de
clamor punitivo com alarmismo social cultivado pela mídia. Serve como exemplo o reality show macabro protagonizado diariamente em
horário nobre pelos pais do menino
brutalmente assassinado. O "JN" os
transformou em celebridades. A hiperexposição perversa do casal faz
com que a dor inominável daquela
família seja triturada num liqüidificador emocional até o ponto de servir de alimento ao desejo coletivo
de vingança e morte.
Só num ambiente social assim, de
pernas para o ar, pode-se considerar a estranhíssima "demonstração
de força" da Polícia Civil na última
sexta como um gesto a favor da segurança e dos cidadãos. O que se viu
-sobretudo em São Paulo, onde a
operação foi idealizada e de fato
executada- pareceu antes de mais
nada uma mistura de manobra midiática com demanda corporativa,
sugerindo como saldo quase um recado das forças de repressão do Estado ao governador. Algo como:
"Estamos aí, chefia".
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