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CLÓVIS ROSSI
Inferno à vista?
LONDRES - O mundo deu ontem
mais alguns passos à beira do abismo a partir do instante em que o
primeiro-ministro tcheco, Mirek
Topolanek, presidente de turno da
União Europeia, disse que os planos
de salvamento da economia lançados pelos Estados Unidos são "o caminho para o inferno".
Topolanek não é o líder de maior
prestígio no mundo, tanto que pediu demissão anteontem, abatido
por uma moção de desconfiança.
Mas afirmou, em linguagem desabrida, o que a maior parte de seus
pares europeus diz com elegância.
Além disso, repôs uma falsa guerra para a cúpula do G20, as maiores
economias do planeta, entre os Estados Unidos (pró-pacotes) e a Europa (contra). Barack Obama acabou contribuindo para a guerra, ao
dizer, de seu lado: "Não queremos
uma situação em que alguns países
estão fazendo esforços extraordinários e outros não".
A guerra é falsa, porque o texto
dos ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do G20,
emitido dia 14, já anunciou a disposição de tomar "qualquer ação que
for necessária até que o crescimento seja restaurado", inclusive "instrumentos não convencionais" [de
política monetária].
Aí, cabe tudo. Novos pacotes, novas heterodoxias, esperar para ver o
que vão dar os pacotes já lançados,
como prefere a Europa.
O que o ataque de Topolanek faz é
semear desconfiança sobre a mais
recente ação do governo Obama, já
posta sob suspeição por economistas do calibre de Paul Krugman.
Mina igualmente a posição do anfitrião do G20, Gordon Brown, já
atingido na linha de flutuação por
um torpedo do "governor" do Banco da Inglaterra, que avisou que não
há espaço para novos estímulos
com dinheiro público.
Não por acaso, ontem o governo
micou com os títulos públicos que
pôs a venda, pela primeira vez em
sete anos. De repente, pode ser o
início da rota "para o inferno".
crossi@uol.com.br
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