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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Horror à política
SÃO PAULO - Não é preciso ser
muito esperto para perceber que a
greve dos professores paulistas liderada pela Apeoesp tem motivações políticas. Mas também não é
preciso conhecer muito a história
para saber que já havia greves, "políticas" inclusive, antes de o PT
existir. Além disso, a estigmatização da "greve política" parece constrangedora para quem ingressou na
vida pública como presidente da
UNE na época do golpe de 64.
A Apeoesp reúne, de fato, o que
há de pior no espírito corporativo. A
aversão dos grevistas a qualquer
política pública e salarial baseada
na meritocracia é escandalosa. E
nada justifica que um docente rejeite ser avaliado de forma periódica.
Por outro lado, também é fato
que a categoria, de 230 mil pessoas,
ganha pouco (o salário inicial é de
R$ 1.800,00) e não teve nos últimos
anos nem direito à reposição da inflação. Existe, pois, uma demanda
material, antes de ser "ideológica".
A verdade é que José Serra dispensa aos grevistas exatamente o
mesmo tratamento de que julga ser
vítima. Demoniza, desqualifica, não
reconhece os professores como interlocutores e parte de conflitos
próprios do jogo democrático. Recusa-se a conversar porque são petistas, porque estão a serviço da
campanha adversária, porque são,
enfim, uns "energúmenos" -como
disse a um infeliz que protestava.
Se no país falta oposição a Lula,
os tucanos de São Paulo, há 16 anos
no poder, também ficaram muito
mal acostumados. Deve ser fácil governar São Paulo tendo a Assembleia Legislativa a seus pés. Sempre
que a política não se desenrola entre quatro paredes, com atores previsíveis, Serra se revela inábil. Sua
intransigência, que pode sugerir
uma virtude republicana, também é
um sinal de pendores autoritários.
Em 2008, sua condução desastrosa da greve da Polícia Civil, recusando-se ao diálogo simplesmente
porque acreditava ter razão, desembocou numa batalha campal
com a PM a poucas quadras do Bandeirantes. Desde então, pode-se dizer que Serra não aprendeu nada.
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