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CLÓVIS ROSSI
O silêncio e as cores do mundo
SÃO PAULO - Os tempos da Guerra Fria podiam ser piores (ou melhores,
sei lá), mas eram certamente mais
simples -ao menos para os pobres
de espírito.
Bastava alinhar-se com um dos lados e ficava-se dispensado de pensar
(mais ou menos como ocorre agora
no Fla-Flu cretino entre petistas e tucanos). Se você era comunista, esquerdista ou algo parecido, tudo o
que os Estados Unidos e seus aliados
diziam ou faziam era errado. E ponto
final. Do outro lado, tudo o que faziam ou diziam os soviéticos e aliados era errado. Simples assim. Era a
vida em preto-e-branco. Mais simples, mais fácil, mas mais pobre.
Variar o leque de cores no mundo
dá um baita trabalho. Tome o caso
do Irã. É possível aceitar a resistência
iraniana à pressão norte-americana
contra o seu programa nuclear, porque há aí uma baita hipocrisia: afinal, os Estados Unidos acabam de
dar certificado de boa conduta à Índia, com o que sacramentam a existência de dois tipos de artefatos nucleares, os "bons" (dos amigos dos
EUA) e os "ruins" (de seus adversários, ainda que momentâneos).
Da mesma forma, é possível simpatizar com as críticas dos iranianos (e
dos palestinos) ao fato de que o Ocidente cobra respeito à legalidade internacional, mas não cobra de Israel
que respeite as resoluções da ONU
que determinam a devolução dos
territórios palestinos.
O que definitivamente não dá para
aceitar são as seguidas declarações
do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, pregando a nova versão
de "solução final" contra Israel. Aí, é
Hitler de turbante. E ponto final.
Por extensão, tampouco dá para
aceitar o silêncio de grande parte dos
países sobre tais declarações. Condenar um tipo de barbárie, ainda que
retórica, não significa estimular outro tipo de terrorismo, como seria um
eventual ataque ao Irã por causa do
programa nuclear.
Já não vivemos o mundo do preto-e-branco.
@ - crossi@uol.com.br
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