|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
A infância da Terra
RIO DE JANEIRO - Leio em revista científica que o planeta Marte, em
sua infância, foi habitável, ou seja, tinha um tipo de vida mais ou menos,
pior ou melhor, como o nosso. Hoje,
como sabemos, Marte é um cadáver
que rola insepulto no espaço. Há vestígios, segundo se crê, de canais, obras
supostamente planejadas e criadas
por seres articulados como o homem,
tal como o conhecemos.
Nunca me preocupei com a possível
vida em outros planetas. Nunca vi
disco voador nem creio que eles existam, apesar dos numerosos relatos
que andam por aí. Nenhum extraterrestre teria interesse em nos visitar:
ou são superiores a nós e já teriam
iniciado um trabalho de cooperação,
trazendo o know-how para aliviar
nossas deficiências morais e materiais; ou são inferiores e não teriam
alcançado o estágio tecnológico que
buscamos e ainda não atingimos.
Digamos que Marte tenha tido
realmente uma vida inteligente. Vida inteligente que não impediu o seu
desaparecimento. Uma catástrofe
nuclear produzida pela própria inteligência ou, o que é mais provável, a
exaustão do ambiente, calor ou frio
insuportáveis para qualquer tipo de
vida, inteligente ou primitiva.
Pensando em nós -que é o importante. Dinossauros e outros animais
pré-históricos desapareceram à medida que o ambiente se alterava. Pergunta: daqui a um milhão de anos,
será possível surgir um Chico Buarque ou um Renato Gaúcho? Será possível um novo Pedro de Lara daqui a
dois milhões de anos?
Assim como Marte teve a sua infância, nós devemos estar vivendo a infância da Terra. Adulta, ela será o
que Marte é hoje: um cadáver do astral, silencioso e inútil. Outra pergunta que faço: por que a nossa agitação,
nossas competições e aflições? Dou
razão ao poeta: "Mas para que tanto
sofrimento se lá fora há o lento deslizar da noite?".
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: A utilidade do vice Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: A mãe de todas as reformas Índice
|