São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

A infância da Terra

RIO DE JANEIRO - Leio em revista científica que o planeta Marte, em sua infância, foi habitável, ou seja, tinha um tipo de vida mais ou menos, pior ou melhor, como o nosso. Hoje, como sabemos, Marte é um cadáver que rola insepulto no espaço. Há vestígios, segundo se crê, de canais, obras supostamente planejadas e criadas por seres articulados como o homem, tal como o conhecemos.
Nunca me preocupei com a possível vida em outros planetas. Nunca vi disco voador nem creio que eles existam, apesar dos numerosos relatos que andam por aí. Nenhum extraterrestre teria interesse em nos visitar: ou são superiores a nós e já teriam iniciado um trabalho de cooperação, trazendo o know-how para aliviar nossas deficiências morais e materiais; ou são inferiores e não teriam alcançado o estágio tecnológico que buscamos e ainda não atingimos.
Digamos que Marte tenha tido realmente uma vida inteligente. Vida inteligente que não impediu o seu desaparecimento. Uma catástrofe nuclear produzida pela própria inteligência ou, o que é mais provável, a exaustão do ambiente, calor ou frio insuportáveis para qualquer tipo de vida, inteligente ou primitiva.
Pensando em nós -que é o importante. Dinossauros e outros animais pré-históricos desapareceram à medida que o ambiente se alterava. Pergunta: daqui a um milhão de anos, será possível surgir um Chico Buarque ou um Renato Gaúcho? Será possível um novo Pedro de Lara daqui a dois milhões de anos?
Assim como Marte teve a sua infância, nós devemos estar vivendo a infância da Terra. Adulta, ela será o que Marte é hoje: um cadáver do astral, silencioso e inútil. Outra pergunta que faço: por que a nossa agitação, nossas competições e aflições? Dou razão ao poeta: "Mas para que tanto sofrimento se lá fora há o lento deslizar da noite?".


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