São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VALDO CRUZ

Tiro no pé

BRASÍLIA - Empresários e diplomatas que chegaram da Europa nos últimos dias trouxeram na bagagem relatos do velho continente que deveriam merecer um pouco de atenção do governo FHC. Versam sobre o discurso preferido do momento: o risco de argentinização do Brasil.
O conteúdo da bagagem será despachado para os gabinetes tucanos. Caso tenham um mínimo de autocrítica e um pouco de responsabilidade, vão perceber que estão errando na dose do terrorismo eleitoral.
FHC, Malan, Armínio, José Serra e seus asseclas estão repetindo com tanto fervor que o Brasil pode se transformar na Argentina que, entre empresários e acadêmicos europeus, cresce a sensação de que estamos bem perto do caos do vizinho.
E que o contágio final pode não aguardar uma eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República. Pode ocorrer antes, diante das fragilidades da economia brasileira. Tudo isso foi ouvido nas últimas semanas na França, na Alemanha e na Inglaterra.
O que esse tipo de percepção gera é muita incerteza. O dólar sobe, o investidor estrangeiro se retrai, aumentam as remessas de lucros para o exterior. Aí os juros não caem, a economia desaquece, o desemprego aumenta e a popularidade do governo tucano despenca.
Traduzindo: o discurso usado para combater o avanço petista nas pesquisas está criando um ciclo de insegurança que, no final, vai fragilizar também a candidatura de Serra.
O que assustou a um dos viajantes é que, ao ouvir em fóruns europeus que realmente podemos estar caminhando para a argentinização, nenhum funcionário brasileiro se deu ao trabalho de defender seu país.
Também pudera. Se os chefes, aqui no Brasil, ajudam a semear tempestade, por que um burocrata, lá fora, vai sair pregando o contrário? Tem gente dando tiro no pé.
Em tempo: alguns poucos auxiliares de FHC vinham fazendo esse alerta. Não estavam sendo ouvidos. Talvez continuem falando ao vento.


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: TEC vale mais que Rita
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O gênero e o grau
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.