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IGOR GIELOW
O horror
BRASÍLIA - Brasília viveu ontem um daqueles dias inesquecíveis na área
política -ou seja, um dia tenebroso.
O grau de descompromisso moral e
de hipocrisia apresentado por todos
os atores no picadeiro leva a platéia a
perguntar: onde é o fundo do poço?
Não se trata de falso moralismo. O
show de horrores patrocinado pelo
governo em sua tentativa de controlar um processo de degradação política pelo qual é o único responsável leva até o mais cínico dos observadores
a ficar meio incomodado.
A genuflexão em série de José Dirceu, primeiro com Roberto Jefferson e
depois com Anthony Garotinho, o ridículo discurso oficial de golpismo,
medidas econômicas estranhas, fora
as tradicionais liberações de emendas e promessas inaudíveis por inconfessáveis. Ontem, até Lula posando com uma cara de pau, na Coréia
do Sul, parecia combinar com o escárnio generalizado.
Se ilude quem pensa que está tudo
bem do outro lado. Causa angústia
ver tucanos e pefelistas fingindo que
nunca abafaram uma CPI e posando
de arautos da responsabilidade -o
"Fica Lula" de Alberto Goldman, arrematado de um fecho à Che Guevara, foi risível. Assim como é patética a
agitação de antigos ocupantes do
barco, enojados pelo horror que,
inexplicavelmente, se descortinou.
E o que vai acontecer? Quando escala Antonio Palocci Filho para dizer
que não há temores para a economia,
como se na verdade eles fossem reais,
o governo esconde o jogo. Muito dificilmente a economia irá piorar ou
melhorar com uma CPI, ou o país irá
pifar, apesar de o clima político tender à histeria.
Na mesa está 2006. É um dado ainda a ser analisado se a aparentemente infindável série de reveses políticos
e as acusações de corrupção irão colar na imagem do presidente. Se sim,
Lula terá apenas a economia para se
sustentar. Os tucanos sabem bem o
que isso significa, pois viveram tal situação no segundo mandato de FHC.
Com razões de sobra, o eleitor é levado ao niilismo: ninguém se salva. E
é exatamente aí que mora o perigo.
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