São Paulo, sábado, 26 de junho de 2004

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OS NÚMEROS DA DROGA

Os usuários de drogas ilícitas já somam 185 milhões em todo o mundo, segundo o relatório quadrienal sobre a utilização de entorpecentes divulgado ontem pelo Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime. Isso significa que pouco menos de três de cada cem habitantes do planeta consomem substâncias consideradas ilegais.
Os números indicam que a epidemia de abuso de entorpecentes ocorrida ao longo do último meio século permanece relativamente contida, sobretudo se comparada à de drogas legais. A título de exemplo, a prevalência anual do uso de tabaco está em torno dos 30%. Em termos gerais, o relatório observa um forte crescimento no consumo de canabinóides (maconha, haxixe). Depois da Cannabis, os maiores aumentos estimados foram o de drogas pertencentes à família das anfetaminas, que inclui o ecstasy, seguido do de substâncias provenientes da coca (cocaína, crack) e do ópio (morfina, heroína).
O Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime, que é uma agência de tendência conservadora, ainda aposta na possibilidade de eliminação do abuso de drogas ilícitas, posição que vem sendo cada vez mais contestada por especialistas. Uma das alternativas ao combate por meio da repressão seriam as políticas de "redução de danos", que consideram o usuário como caso de saúde pública e não de polícia. Outra alternativa, mais drástica, é a perspectiva de legalização -defendida, em tese, até por economistas ligados ao liberalismo ortodoxo norte-americano.
É evidente que as drogas não podem ser legalizadas da noite para o dia. Não é preciso ser "expert" em epidemiologia para perceber que, se o número de usuários de substâncias ilícitas fosse multiplicado por dez (a diferença dos 3% para os 30% do tabaco), teríamos um gravíssimo problema de saúde pública.
Constatar essa obviedade não deve nos impedir de ver que apenas reprimir o tráfico e o usuário é uma estratégia que vem se mostrando pouco eficiente no combate ao comércio ilegal e ao consumo de drogas.


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