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OBSCURANTISMO FATAL
O obscurantismo mais uma
vez triunfou sobre a ciência. A
poliomielite, doença que estava prestes a ser erradicada do planeta, voltou
a atacar em vários países africanos. A
Organização Mundial da Saúde
(OMS) divulgou nesta semana um
sombrio comunicado alertando para
o fato de que os casos de pólio registrados neste ano aumentaram cinco
vezes nas regiões oeste e central do
continente em comparação com
igual período de 2003.
Análise das linhagens do vírus
apontam para a região de Kano, na
Nigéria, como o epicentro do atual
ressurgência da doença. Foi justamente no Estado de Kano que autoridades religiosas boicotaram as várias
campanhas de vacinação capitaneadas pela OMS. Com base em rumores de que a vacina causava infertilidade, clérigos conseguiram com que
as autoridades estaduais proibissem
a campanha. Alegavam que tudo fazia parte de um complô norte-americano para tornar as mulheres muçulmanas inférteis. Pregadores islâmicos mais radicais são contra todas as
vacinas, por considerá-las não-islâmicas -se Deus quiser que você
morra, você morrerá; se Ele não quiser, você não morrerá.
A proibição foi formalmente levantada, mas até agora a OMS não conseguiu voltar a vacinar crianças em
Kano. E o vírus vai se espalhando rapidamente pelo continente. Dez países que haviam conseguido livrar-se
da doença tornaram a registrar casos. Provoca especial inquietação a
erupção da moléstia na região de
Darfur, no Sudão. Lá, uma sórdida
campanha de limpeza étnica colocou
milhões de pessoas sob condições
precárias, o que favorece enormemente a disseminação do vírus.
O saldo é muito ruim. Agora, não
só a meta de eliminar a pólio do planeta até o início do próximo ano está
ameaçada, como a doença que se encontrava próxima da extinção voltou
com força a infectar, aleijar e matar.
A religião, uma instituição altamente
respeitável, não deveria dar guarida a
boatos que conspiram contra a vida.
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