|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
Militares à deriva
BRASÍLIA - São tantos os boatos nos bastidores que o assunto já parece
um fato consumado: a saída do ministro da Defesa, José Viegas. Nada
garante que a demissão seja iminente, exceto a insistência do falatório
nos corredores de Brasília.
Se Viegas cair, várias razões serão
apresentadas. Uma delas é essencial:
a depauperação da folha salarial das
Forças Armadas e a incapacidade do
ministro de garantir algum plano
real de recuperação dos soldos.
Os comandantes do Exército, da
Marinha e da Aeronáutica já cansaram de falar com interlocutores de
toda ordem a respeito. Dizem não enxergar em Viegas alguém com força
política suficiente para vocalizar o
que se passa nos quartéis, sobretudo
ao descrever o cenário para Lula.
No momento em que o presidente
da República compra um avião novo
e motocicletas importadas para dar
escolta a dignitários que passeiam
por Brasília, sargentos do Exército
ganham menos do que a maioria dos
soldados de Polícias Militares. Exatamente os soldados que, em alguns Estados, não são capazes de manter a
ordem local -e então o Exército é
chamado para ajudar.
Um segundo-sargento com curso de
aperfeiçoamento e 15 anos de serviço
recebe, hoje, R$ 2.120 brutos por mês.
Descontadas as despesas obrigatórias
(pensão militar, fundo de saúde e IR),
sobram R$ 1.790 líquidos.
Um estudo que circula no Congresso afirma que "cerca de 40%" dos militares ativos e inativos descontam
"no contracheque parcelas relativas a
empréstimos pessoais". Dos 129.432
militares na ativa, 48.800 já recorreram a empréstimos.
Ainda está longe de haver insatisfação militar no nível que possa resultar em insubordinação, mas o descontentamento é visível. Viegas contribuiu com seu estilo anódino e inépcia para o comando.
Prospera nos quartéis a idéia de
que deveria haver um ministro militar. Seria um retrocesso não ter um
civil na Defesa. Se Lula não agir com
presteza, terá na sua conta mais esse
atraso para o país.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: O absurdo vira bom senso Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O palanque e o púlpito Índice
|