São Paulo, sábado, 26 de junho de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Militares à deriva

BRASÍLIA - São tantos os boatos nos bastidores que o assunto já parece um fato consumado: a saída do ministro da Defesa, José Viegas. Nada garante que a demissão seja iminente, exceto a insistência do falatório nos corredores de Brasília.
Se Viegas cair, várias razões serão apresentadas. Uma delas é essencial: a depauperação da folha salarial das Forças Armadas e a incapacidade do ministro de garantir algum plano real de recuperação dos soldos.
Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica já cansaram de falar com interlocutores de toda ordem a respeito. Dizem não enxergar em Viegas alguém com força política suficiente para vocalizar o que se passa nos quartéis, sobretudo ao descrever o cenário para Lula.
No momento em que o presidente da República compra um avião novo e motocicletas importadas para dar escolta a dignitários que passeiam por Brasília, sargentos do Exército ganham menos do que a maioria dos soldados de Polícias Militares. Exatamente os soldados que, em alguns Estados, não são capazes de manter a ordem local -e então o Exército é chamado para ajudar.
Um segundo-sargento com curso de aperfeiçoamento e 15 anos de serviço recebe, hoje, R$ 2.120 brutos por mês. Descontadas as despesas obrigatórias (pensão militar, fundo de saúde e IR), sobram R$ 1.790 líquidos.
Um estudo que circula no Congresso afirma que "cerca de 40%" dos militares ativos e inativos descontam "no contracheque parcelas relativas a empréstimos pessoais". Dos 129.432 militares na ativa, 48.800 já recorreram a empréstimos.
Ainda está longe de haver insatisfação militar no nível que possa resultar em insubordinação, mas o descontentamento é visível. Viegas contribuiu com seu estilo anódino e inépcia para o comando.
Prospera nos quartéis a idéia de que deveria haver um ministro militar. Seria um retrocesso não ter um civil na Defesa. Se Lula não agir com presteza, terá na sua conta mais esse atraso para o país.


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