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VINICIUS MOTA
O motivador
SÃO PAULO - Na falta do original,
a CBF optou por Dunga, genérico
de Felipão: gaúcho, macho, mandão, passional. A esperança é que o
clima de micareta neurolingüística,
a combinação que maximiza a
"vontade de ganhar" e a "alegria de
jogar", volte ao escrete amarelo.
A escolha está em harmonia com
as causas básicas do fracasso do
Brasil na Alemanha, segundo o
diagnóstico da massa de opiniões
que emergiu após a derrota para a
França. Se faltou vibração, gritaria,
amor à camisa e à pátria, descabelar-se à beira do campo, tratar com
dureza as "estrelas", então Dunga é
uma resposta lógica. Mais do que
treinar os canarinhos, chegou para
motivar, verbo intransitivo.
Nada disso me agrada. Prefiro o
tédio parreirista, a modorra reflexiva da vida, à hiperatividade permanente -11 poodles enlouquecidos
no gramado, durante 90 minutos-
que Dunga prenuncia. O time de
Parreira não jogou nada, não merecia ter passado da primeira fase. É
de justiça, porém, reconhecer os
bons exemplos que transmitiu
quando a bola não estava rolando.
Queriam que Cafu se comportasse como condenado, que aceitasse
as chibatadas pela desclassificação,
mas ele foi altivo e disse no aeroporto que está preparado para
2010. Bravo! Queriam o mesmo de
Roberto Carlos, e ele recusou a malhação. Queriam que Ronaldinho e
Adriano guardassem luto pela derrota, mas eles se divertiram sem
culpa a noite toda em uma boate de
Barcelona. Bravo! Queriam hostilidade a Zidane, mas Robinho o abraçou no intervalo e no final da partida; queriam lágrimas "argentinas"
no gramado de Frankfurt.
Parreira, a ascensão social meteórica e o trabalho na Europa fizeram bem a esses jogadores. Superaram não apenas a pobreza a que estavam fadados, não fosse o futebol.
Aprenderam a comportar-se e a valorizar-se sobretudo como profissionais e assim se libertaram da catarse nacionalista. Negaram, aos
olhos de milhões de espectadores, a
farsa da pátria em chuteiras.
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