São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 2006

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PLÍNIO FRAGA

Gutenberg está morto

RIO DE JANEIRO - A internet despojou o jornalismo de seus privilégios. Difundir a informação, encontrar uma audiência e decidir que fatos devem ser destacados são funções acessíveis a todos. A influência que uma profissão específica exercia sobre os meios de comunicação desmoronou. O que explica, em parte, a crise recorrente, ética e econômica, da imprensa clássica. A internet não é um suporte a mais; é o fim do jornalismo tal como o conhecemos até hoje.
O arrazoado acima, numa tradução para lá de livre, vem de "Une Presse Sans Gutenberg" ("Uma Imprensa Sem Gutenberg", Grasset, 2005), dos jornalistas Jean-François Fogel e Bruno Patino. É um livro fascinante desde o título. Seus autores se arrogam tantas certezas sobre o futuro que assustam os mais comedidos: a internet na era da informação "não é um novo capítulo em sua história, mas uma outra história", escrevem.
No meio dessa complexa discussão é que deve ser analisado o projeto de lei, aprovado pelo Congresso, que amplia a exigência de diploma de jornalista de 11 para 23 funções em meios de comunicação. É uma proposta do Pastor Amarildo, do PSC, do Tocantins. Dá vontade de dizer que Amarildo não é o Senhor, PSC não é partido nem Tocantins é Estado. Tal gracejo deveria ser um desses privilégios despojados do jornalismo, mas é de um tipo incitado hoje na rede.
Espera-se o veto ao projeto pelo presidente Lula -gesto alvissareiro para quem defendeu a existência de um conselho castrador para os jornalistas. A formação sindical de Lula faz com que entenda o mundo por meio de nichos corporativos.
Desalentador é perceber que são as entidades de classe dos jornalistas os anjos a inspirar as algaravias do Pastor Amarildo. Mal informados, ainda não receberam a notícia de que Gutenberg está morto.


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