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PLÍNIO FRAGA
Gutenberg está morto
RIO DE JANEIRO - A internet
despojou o jornalismo de seus privilégios. Difundir a informação, encontrar uma audiência e decidir
que fatos devem ser destacados são
funções acessíveis a todos. A influência que uma profissão específica exercia sobre os meios de comunicação desmoronou. O que explica, em parte, a crise recorrente,
ética e econômica, da imprensa
clássica. A internet não é um suporte a mais; é o fim do jornalismo tal
como o conhecemos até hoje.
O arrazoado acima, numa tradução para lá de livre, vem de "Une
Presse Sans Gutenberg" ("Uma Imprensa Sem Gutenberg", Grasset,
2005), dos jornalistas Jean-François Fogel e Bruno Patino. É um livro fascinante desde o título. Seus
autores se arrogam tantas certezas
sobre o futuro que assustam os
mais comedidos: a internet na era
da informação "não é um novo capítulo em sua história, mas uma outra
história", escrevem.
No meio dessa complexa discussão é que deve ser analisado o projeto de lei, aprovado pelo Congresso,
que amplia a exigência de diploma
de jornalista de 11 para 23 funções
em meios de comunicação. É uma
proposta do Pastor Amarildo, do
PSC, do Tocantins. Dá vontade de
dizer que Amarildo não é o Senhor,
PSC não é partido nem Tocantins é
Estado. Tal gracejo deveria ser um
desses privilégios despojados do
jornalismo, mas é de um tipo incitado hoje na rede.
Espera-se o veto ao projeto pelo
presidente Lula -gesto alvissareiro
para quem defendeu a existência de
um conselho castrador para os jornalistas. A formação sindical de Lula faz com que entenda o mundo
por meio de nichos corporativos.
Desalentador é perceber que são
as entidades de classe dos jornalistas os anjos a inspirar as algaravias
do Pastor Amarildo. Mal informados, ainda não receberam a notícia
de que Gutenberg está morto.
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