São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

Pelas agressões no horário político

SÃO PAULO - O juiz eleitoral Caputo Bastos decidiu enfim não impedir que o programa de TV de José Serra mostre Ciro Gomes dizendo barbaridades divertidas. Mas, nos textos em que explicou suas decisões sobre o caso, o juiz disse acreditar que "o eleitor não espera que o horário eleitoral seja utilizado para agressões, intrigas", embora diga que não vá chancelar "censura odiosa".
Mas como o juiz sabe que o eleitor "não espera" agressões etc? Enfim, e daí que políticos se ataquem? Os candidatos devem aparecer na TV só como querem, imaculados e engomadinhos como os soldados das cenas de guerra de filme brasileiro?
Considere o caso do candidato imaginário Sinfrônio Pudêncio, da coalizão Propriedade de Deus e Família.
Pudêncio expõe com esmero seu programa na TV, sem agressões ou coisas que o eleitor "não espera". É contra a educação sexual antes dos 21 anos e propõe que o governo financie campanha em defesa da virgindade. Mas o comitê de Inácio de Loyola Gomes da Serra descobre uma fita de vídeo que mostra seu adversário Pudêncio em orgia pedófila na boate Amore Mio. O eleitor não deve conhecer a vida secreta de Pudêncio?
É muito duvidoso limitar a liberdade de expressão a não ser em caso de calúnia ou injúria. A tentativa de propor mais regras sempre conduz à questão: quem tem o direito de decidir o que é bom, belo e certo o bastante para ser mostrado ao público?
Por que Ciro não pode mostrar que Serra, na campanha perdida de 96 para prefeito de São Paulo, se dizia "autor do Real"? Era nada. O Real é cria de economistas da PUC do Rio. Ou dizer que Serra foi o ministro do Planejamento de déficits monstro? A culpa era de Pedro Malan, Gustavo Franco e das próprias bobagens de Ciro quando ministro da Fazenda? Ok, que Serra saísse do governo, pode retrucar Ciro, e não dissesse em público que sua relação com Malan era "muito boa". Em resposta, Serra poderia denunciar as idéias econômicas do Almanaque Capivarol de Ciro. Por aí vai, e o público ficaria mais bem informado. Mais agressões no horário político, por obséquio.



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