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VINICIUS TORRES FREIRE
Pelas agressões no horário político
SÃO PAULO - O juiz eleitoral Caputo Bastos decidiu enfim não impedir
que o programa de TV de José Serra
mostre Ciro Gomes dizendo barbaridades divertidas. Mas, nos textos em
que explicou suas decisões sobre o caso, o juiz disse acreditar que "o eleitor
não espera que o horário eleitoral seja utilizado para agressões, intrigas",
embora diga que não vá chancelar
"censura odiosa".
Mas como o juiz sabe que o eleitor
"não espera" agressões etc? Enfim, e
daí que políticos se ataquem? Os candidatos devem aparecer na TV só como querem, imaculados e engomadinhos como os soldados das cenas de
guerra de filme brasileiro?
Considere o caso do candidato imaginário Sinfrônio Pudêncio, da coalizão Propriedade de Deus e Família.
Pudêncio expõe com esmero seu
programa na TV, sem agressões ou
coisas que o eleitor "não espera". É
contra a educação sexual antes dos
21 anos e propõe que o governo financie campanha em defesa da virgindade. Mas o comitê de Inácio de Loyola
Gomes da Serra descobre uma fita de
vídeo que mostra seu adversário Pudêncio em orgia pedófila na boate
Amore Mio. O eleitor não deve conhecer a vida secreta de Pudêncio?
É muito duvidoso limitar a liberdade de expressão a não ser em caso de
calúnia ou injúria. A tentativa de
propor mais regras sempre conduz à
questão: quem tem o direito de decidir o que é bom, belo e certo o bastante para ser mostrado ao público?
Por que Ciro não pode mostrar que
Serra, na campanha perdida de 96
para prefeito de São Paulo, se dizia
"autor do Real"? Era nada. O Real é
cria de economistas da PUC do Rio.
Ou dizer que Serra foi o ministro do
Planejamento de déficits monstro? A
culpa era de Pedro Malan, Gustavo
Franco e das próprias bobagens de
Ciro quando ministro da Fazenda?
Ok, que Serra saísse do governo, pode
retrucar Ciro, e não dissesse em público que sua relação com Malan era
"muito boa". Em resposta, Serra poderia denunciar as idéias econômicas
do Almanaque Capivarol de Ciro.
Por aí vai, e o público ficaria mais
bem informado. Mais agressões no
horário político, por obséquio.
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