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CARLOS HEITOR CONY
A insatisfeita
RIO DE JANEIRO - Custou mas descobri o truque usado pelos gênios por
aqueles que parecem entender realmente de um assunto, seja ele qual
for. Não é necessário saber muito,
nem ao menos o básico. Basta dividir
o problema (ou o próprio assunto)
em três partes.
Dou um exemplo: o que é uma caneta? Caneta é um objeto dividido
em três partes: a pena, a tampa e a
caneta propriamente dita. A pena
serve para escrever, a tampa serve
para tampar não apenas a pena, mas
a caneta propriamente dita, e a caneta propriamente dita é o núcleo, o eixo da própria caneta.
Basta fazer esta divisão em três partes e o sujeito já é considerado um
mestre, um oráculo em matéria de
caneta. O auditório fica predisposto a
acreditar em tudo o que ele dirá a
respeito do assunto.
Foi por isso que César, ao escrever
sobre sua campanha mais famosa;
começou dizendo que a Gália é dividida em três partes. E a maioria dos
dramas escritos para o teatro são
também divididos por três atos, a exposição, o conflito, a solução.
A lógica de Aristóteles, que até hoje
prevalece, dividiu a operação da
mente em três partes, a apreensão, o
raciocínio e o juízo resultante. Três
são as pessoas da Santíssima Trindade e, no futebol, quando a coisa engrossa, apela-se para a melhor de
três, que se torna definitiva, inapelável.
Não sei por que estou escrevendo
sobre o número três, que um doutor
da Igreja, acho que Santo Ambrósio,
dizia que é o número perfeito. Nos
leilões, a terceira batida do martelo
encerra a questão, dando tempo a
que os pretendentes pensem melhor
sobre os lances anteriormente dados.
Tive uma amiga que também era
fanática pelo número três. Só levava
a sério o parceiro depois da terceira
investida. Nem adiantava perguntar
se ela tinha gostado na primeira e na
segunda. A coisa só engrenava a partir da terceira.
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