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DEMISSÃO SUSPEITA
São preocupantes as circunstâncias que parecem ter desencadeado o pedido de exoneração de
Francisco Baltazar da Silva do cargo
de superintendente da Polícia Federal em São Paulo. Baltazar ocupava
um dos mais elevados postos da instituição. Embora nada tenha sido oficialmente provado, o histórico do
delegado parece contradizer sua versão de que a demissão deveu-se simplesmente a "razões pessoais".
Em primeiro lugar, há sinais de irregularidades em inquéritos instaurados durante a gestão de Baltazar.
Há, ainda, fortes indícios de que o
ex-superintendente teria comprado
US$ 136,4 mil do doleiro Antonio
Claramunt, preso na semana passada por envolvimento nos esquemas
de lavagem de dinheiro rastreados
pela Operação Farol da Colina. Por
fim, o delegado é suspeito de ter divulgado informações sigilosas para
doleiros investigados pela mesma
operação, facilitando-lhes a fuga
-exatamente o contrário do que se
espera de um policial.
O nome do ex-superintendente já
havia sido encontrado em conversas
entre um delegado e um agente federal que integravam um esquema de
venda de sentenças judiciais. Os diálogos foram gravados durante a chamada Operação Anaconda, a cargo
da Polícia Federal, da qual Baltazar
não fora avisado. Especula-se que a
cúpula da instituição não o teria notificado por já nutrir suspeitas em relação à PF de São Paulo.
Um aspecto constrangedor do episódio é o fato de a nomeação de Baltazar ter sido sugerida pelo próprio
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
-de quem o ex-superintendente se
diz amigo e "fã", desde 1989, quando
coordenou a segurança da campanha do PT à Presidência.
O caso reforça a opinião corrente
de que a contaminação pelo crime
atinge não apenas setores da base
das corporações policiais, mas também os altos escalões. É de esperar
que, apesar da demissão de Baltazar,
não sejam poupados esforços para
esclarecer os fatos. Com isso, ganhariam a PF, o governo federal e a sociedade brasileira.
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