São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Os presidenciáveis e os homossexuais
LUIZ MOTT
José Serra é quem menos falou publicamente a respeito dos homossexuais, muito embora tenha em seu currículo uma declaração antológica. Em 2001, ainda ministro da Saúde, ao participar de uma reunião sobre Aids na ONU, declarou: "Não assino documento em que o homossexualismo seja considerado pecado". Um ano depois, lideranças evangélicas cariocas atribuíram a Serra a afirmação de ser cristão e contrário à aprovação do projeto de parceria civil registrada entre homossexuais. O candidato, porém, negou aos jornalistas tal declaração. Seu último pronunciamento sobre a questão homossexual foi considerado evasivo pelas lideranças gays: "Não compete ao Estado interferência nas relações entre dois adultos livremente consentidas. Já a união civil coloca obrigatoriamente sob a égide do Estado e da lei direitos e obrigações. Num Estado democrático como o nosso, a sociedade tem de ser chamada a discutir, opinar e decidir -até em um plebiscito. Para uma criança, a adoção é melhor que o abandono. O Estado deve conceder com liberalidade a adoção e exercer maior rigor na fiscalização". Dos quatro principais presidenciáveis, Anthony Garotinho é quem mais radicaliza em sua oposição aos homossexuais. Em 2001, quando governador do Rio, teve uma fase mais liberal, ao sancionar uma lei contra a homofobia. Nesse mesmo ano, contudo, declarou: "Uma coisa é o homossexualismo, outra coisa é o homossexual. Uma coisa é o pecador, outra é o pecado. Sou contra o homossexualismo, abertamente contra". Agora, em 2002, Garotinho radicaliza: "Eu, como cristão, sou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de crianças por casais de gays". Essas incoerências no discurso dos presidenciáveis em relação à homossexualidade refletem a mesma contradição observada na sociedade brasileira: de um lado, o Ministério da Saúde patrocina campanha na televisão defendendo a auto-estima dos gays e o próprio presidente da República aceita carregar, em pleno Palácio do Planalto, a bandeira do arco-íris, símbolo mundial do movimento gay; do outro lado, o Brasil emerge como o campeão mundial de assassinato de homossexuais. Contradição desconcertante que nosso próximo presidente terá de enfrentar e trabalhar para solucionar. Luiz Mott, 56, professor titular do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia, é membro do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e presidente do Grupo Gay da Bahia. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Eduardo Duhalde: Argentina, Brasil e o futuro em comum Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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