São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Senta, que o Lula é manso?

SÃO PAULO - Não é que o tal do dólar chega à eleição algo menos empinado do que nos dias anteriores? Pelo terrorismo que agentes do mercado fizeram, desde o início da campanha eleitoral, a moeda norte-americana deveria estar em uns R$ 5.
Afinal, todo mundo sabe que Luiz Inácio Lula da Silva vai ganhar a eleição amanhã. E uma parcela muito significativa dos operadores de mercado dizia que Lula seria o caos. Logo, se o caos está mais próximo do que nunca, o dólar também deveria estar mais caro, certo?
É claro que deve ser dado o devido desconto pelo fato de que o Banco Central torrou uma pilha formidável de dinheiro (US$ 1,7 bilhão só neste mês) para evitar a subida ainda mais espetacular da moeda dos EUA.
É também verdade que a secura de recursos para o Brasil e para outros países ditos emergentes deu boa contribuição para a escalada do dólar.
Mesmo assim, não há como escapar da constatação de que houve uma baita especulação -e ganhos suculentos- usando o pretexto da disputa eleitoral e do favoritismo nela, desde o princípio da campanha, do candidato do PT.
A questão central agora é saber se a especulação cede ou continua. Os pretextos (ou motivos reais) continuam todos aí: Lula já será o presidente eleito a partir da noite de domingo; vencimentos de títulos continuarão a pipocar e a escassez de dólares se manterá.
A especulação e o terrorismo financeiro não foram capazes, como se está vendo, de afetar substancialmente as intenções de voto. Mas a sua continuidade, dependendo do grau, afetará, sim, as condições de governabilidade não só no que resta do ano mas, principalmente, no início da próxima administração.
A menos que o mercado tenha decidido, tardiamente, que o "demônio vermelho" já nem é tão vermelho nem tão demônio.


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