São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES É preciso avançar no combate à pobreza
REBECA GRYNSPAN
DURANTE A Conferência do Milênio, em 2000, chefes de Estado de todos os países da América Latina e do Caribe se uniram aos líderes de outras partes do mundo para fazer promessas ambiciosas, mas bastante sérias: os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), um plano de ação concreto que estabelece metas quantificáveis nas áreas de saúde, educação, pobreza, fome, meio ambiente e igualdade de gênero, temas que continuam sendo um desafio para nossa região. No último dia 25 de setembro, os líderes se reuniram novamente para discutir os ODM e avaliar em que áreas o mundo pode fazer mais para alcançá-los até 2015. Os objetivos são alcançáveis, mas demandam ações articuladas, criativas e decisivas por parte da comunidade internacional. É precisamente por esse motivo que o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu aos líderes do mundo que apresentassem, nesse encontro de alto nível, planos concretos e os próximos passos para cumprir esses compromissos. Temos presenciado melhoras importantes ao redor do mundo. O resultado é que já foram alcançadas, antes do prazo, algumas metas essenciais dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Na América Latina, países como Chile, Brasil, Equador e El Salvador têm se destacado pelo compromisso e pelas ações concretas para o cumprimento dos ODM. Em parte graças ao fortalecimento de programas sociais de grande envergadura, o Brasil já alcançou a meta de redução da pobreza estabelecida pela ONU, está prestes a universalizar o acesso ao ensino fundamental e, no ritmo atual, deverá atingir a maior parte das metas nacionais. Em algumas áreas, o governo federal já assumiu compromissos mais ambiciosos do que o previsto nas metas do milênio: o Brasil se comprometeu, por exemplo, a reduzir a um quarto a pobreza extrema, enquanto a meta demandava apenas a redução pela metade da proporção da população que vive com renda inferior a um dólar por dia. Do mesmo modo, em vez de reduzir à metade a proporção de pessoas que sofrem com a fome, o país se comprometeu a eliminar esse problema até 2015. O estabelecimento de metas mais rigorosas é revelador das dimensões e das complexidades do país, que também se posiciona na esfera internacional como uma importante liderança na construção de um sistema multilateral mais eqüitativo. Mas não há dúvidas de que o maior desafio do Brasil nos próximos anos será transformar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em uma realidade para todas e todos, garantindo que as diferentes metas sejam atingidas em todas as regiões do país e pelos diferentes grupos sociais. A América Latina tem bons motivos para celebrar, mas ainda há muito a ser feito. Existe uma grande heterogeneidade na região no que se refere aos resultados conquistados. O mais importante é que devemos ser mais ambiciosos e analisar a situação além das médias nacionais. Sabemos que é preciso um esforço renovado para chegar às populações marginalizadas. Para que essa ambição fique ao nosso alcance, terão de ser garantidos os compromissos assumidos na última reunião dos ODM sobre a necessidade de que os maiores esforços venham do mundo desenvolvido. Especificamente, é necessário garantir simultaneamente o aumento da ajuda aos países que mais precisam dela e a implementação de medidas para a expansão dos fluxos comerciais e a abertura de novos mercados para as exportações por meio de acordos multilaterais. Trata-se de um momento crítico, dado que a desaceleração da economia, os altos preços dos alimentos e dos combustíveis e as mudanças do clima ameaçam os progressos já conquistados. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio são realizáveis, mas somente se os líderes mundiais cumprirem seus compromissos e adotarem medidas positivas e rápidas para melhorar a situação de todos, independentemente de quem sejam e de onde venham. Temos todos o papel, como cidadãos responsáveis, de apoiar os esforços dos governos para cumprir essas promessas e aumentar a intensidade de suas ações nos próximos sete anos -nas áreas de saúde, renda, educação, recursos, nutrição- para pôr fim à pobreza e melhorar a eqüidade na América Latina e além dela. REBECA GRYNSPAN é a diretora regional para a América Latina e o Caribe do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Juan Somavia: Recuperar a confiança e enfrentar a crise Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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