São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

O sorriso da sociedade

RIO DE JANEIRO - Em 19 de junho de 1915, no saguão do "Jornal do Commercio", na esquina mais nobre do Rio de Janeiro (rua do Ouvidor com avenida Rio Branco), o jornalista Gilberto Amado matou o poeta Annibal Theophilo.
A Objetiva está lançando "O Sorriso da Sociedade", de Anna Lee, historiando as intrigas e um crime no mundo literário da "belle-époque". O título é uma referencia à definição de Afrânio Peixoto: "a literatura é como o sorriso da sociedade".
Anna Lee apresenta o avesso dessa definição infeliz. A sociedade a que Afrânio Peixoto se referia freqüentava os saraus do "Jornal do Commercio", onde os temas em debate eram o "beijo", o "galanteio" e outros afins. Num desses saraus, sentindo-se insultado por Annibal Theophilo, o futuro embaixador e acadêmico Gilberto Amado disparou sua arma, matando o desafeto.
A sociedade não sorriu nesse lance. Ficou estarrecida. Toda a "entourage" literária e política daquele tempo se envolveu no processo: Coelho Neto, Olavo Bilac, Pinheiro Machado e outros. O estudo de Anna Lee torna-se uma referência ao lado de "A Vida Literária no Brasil", de Brito Brocca.
É um levantamento dos usos e costumes daquela época, quando outro escritor, Euclides da Cunha, também foi assassinado. Temos uma impressão folclórica desse tempo: poesia e prosa servidas nas mesas da "Colombo" e da "Cavê", as piadas de Emilio Menezes, as loucuras de José do Patrocínio e Olavo Bilac narradas por Ruy Castro em "Bilac Vê Estrelas".
Nem a tragédia do "Jornal do Commercio" quebrou o clima daquela turma. No enterro de Annibal Theophilo, cumprindo recomendação do próprio, aspergiram durante o velório o perfume francês que ele usava, "Idéal de Houbigant".
Anna Lee garante que o estoque do perfume acabou em todo o Rio de Janeiro.


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