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CARLOS HEITOR CONY
O sorriso da sociedade
RIO DE JANEIRO - Em 19 de junho de 1915, no saguão do "Jornal
do Commercio", na esquina mais
nobre do Rio de Janeiro (rua do Ouvidor com avenida Rio Branco), o
jornalista Gilberto Amado matou o
poeta Annibal Theophilo.
A Objetiva está lançando "O Sorriso da Sociedade", de Anna Lee,
historiando as intrigas e um crime
no mundo literário da "belle-époque". O título é uma referencia à definição de Afrânio Peixoto: "a literatura é como o sorriso da sociedade".
Anna Lee apresenta o avesso dessa definição infeliz. A sociedade a
que Afrânio Peixoto se referia freqüentava os saraus do "Jornal do
Commercio", onde os temas em debate eram o "beijo", o "galanteio" e
outros afins. Num desses saraus,
sentindo-se insultado por Annibal
Theophilo, o futuro embaixador e
acadêmico Gilberto Amado disparou sua arma, matando o desafeto.
A sociedade não sorriu nesse lance. Ficou estarrecida. Toda a "entourage" literária e política daquele
tempo se envolveu no processo:
Coelho Neto, Olavo Bilac, Pinheiro
Machado e outros. O estudo de Anna Lee torna-se uma referência ao
lado de "A Vida Literária no Brasil",
de Brito Brocca.
É um levantamento dos usos e
costumes daquela época, quando
outro escritor, Euclides da Cunha,
também foi assassinado. Temos
uma impressão folclórica desse
tempo: poesia e prosa servidas nas
mesas da "Colombo" e da "Cavê", as
piadas de Emilio Menezes, as loucuras de José do Patrocínio e Olavo
Bilac narradas por Ruy Castro em
"Bilac Vê Estrelas".
Nem a tragédia do "Jornal do
Commercio" quebrou o clima daquela turma. No enterro de Annibal
Theophilo, cumprindo recomendação do próprio, aspergiram durante
o velório o perfume francês que ele
usava, "Idéal de Houbigant".
Anna Lee garante que o estoque
do perfume acabou em todo o Rio
de Janeiro.
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