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CLÓVIS ROSSI
Brasil, EUA e percepções
LISBOA - A entrevista de Marco
Aurélio Garcia, em que fala da decepção com o governo Barack Obama, é forte, mas está longe de caracterizar um conflito, ao contrário do
que parte da mídia deu a entender.
Parece muito mais um pedido de atenção, no trecho em que constata, com razão, o descuido de Obama
para com a América Latina, no que, aliás, ecoa o que o chanceler Celso Amorim havia dito à Folha alguns dias atrás.
O pedido até funcionou: ontem o
general James Jones, assessor de
segurança nacional de Obama, telefonou para Marco Aurélio e tudo ficou claro: não há um estranhamento nas relações bilaterais, mas "percepções" diferentes sobre alguns
temas, disse o assessor de Lula (detalhes no caderno Mundo).
O estado real das relações bilaterais, à margem de retóricas mais ou
menos quentes, está na entrevista
que Eliane Cantanhêde fez com
Mauro Vieira, o novo embaixador
em Washington e, como tal, a
pessoa mais indicada para tomar
a temperatura:
"Os Estados Unidos, hoje, tomam o Brasil como um interlocutor importante, válido. Ouvem o
Brasil não apenas para os temas bilaterais mas também regionais e
multilaterais. A boa química entre
os dois presidentes ajuda muito, e eles já se encontraram cinco vezes", disse Vieira.
O descuido de Obama pode ser
explicado assim, na experiente voz
de Mário Soares, ex-presidente e,
hoje, o grande patriarca da política
portuguesa: "Obama tem todo o peso do mundo em cima e não pode fazer tudo de uma vez".
Bingo. Obama está se engajando
demais em diferentes regiões. A
América Latina, por não ser um
problema, não é uma prioridade.
Honduras, como é óbvio, não chega
a ser um, digamos, Afeganistão para Obama. Mas, mal conduzida a
questão, pode criar uma perturbação com o Brasil e com parte grande da América Latina.
crossi@uol.com.br
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