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ELIANE CANTANHÊDE
Vai mal a coisa
BRASÍLIA - As relações do Brasil
com o Irã vão de vento em popa,
mas não se pode dizer o mesmo das relações do Brasil com os EUA.
Depois de o chanceler Amorim dizer à Folha que há "uma frustração" com os EUA e cobrar "maior
franqueza" do governo Barack
Obama, agora é o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, quem manifesta "decepção".
No meio disso, a carta de Obama para Lula soa como inventário dos
pontos de discórdia. Alguns são antigos, como o fracasso da Rodada de
Doha, a derradeira sacada brasileira na área de comércio, depois do
enterro da Alca e do aborto de acordos bilaterais com os EUA.
Outros são bem mais recentes,
como a saída para a crise de Honduras. O Brasil lidera o movimento
para rejeitar o presidente eleito no
próximo domingo, sem que Manuel
Zelaya seja reconduzido antes. Já
os EUA têm apoio de velhos aliados
incondicionais, como a Colômbia,
para acatar o resultado das urnas e ponto final.
Vai mal a coisa, e cedo. Obama
acaba de ser empossado, tem enormes dificuldades internas, nem sequer obteve a aprovação de todos
os assessores no Congresso (nem o
embaixador no Brasil, aliás) e não
consegue avançar no Oriente Médio, no Afeganistão, na aproximação com a América Latina.
E o mais curioso é o desequilíbrio
do comércio bilateral: superavit de
US$ 4 bi para os EUA, um aumento
de 284%. Perguntar não ofende:
então o Brasil é comprador, em vez
de vendedor para o maior e mais
disputado mercado do planeta?
Segundo o embaixador Mauro
Vieira (que assume em janeiro a
embaixada em Washington), isso é
sinal da importância que produtores e exportadores norte-americanos dão ao Brasil mesmo na crise.
Ok, mas não seria melhor que os
produtores e exportadores brasileiros é que se dessem bem?
O próximo round será em Copenhague, com EUA e China de um
lado, França e Brasil do outro.
elianec@uol.com.br
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