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Editoriais
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Ameaça às pesquisas
Coerente com o espírito de tutela sobre o eleitor que caracteriza
boa parte das normas eleitorais no
Brasil, o senador Papaléo Paes
propõe legislação com o intuito de
controlar a atividade dos institutos de pesquisa e a divulgação de
seus levantamentos nos dias que
antecedem os pleitos.
Projeto de lei emendado pelo
tucano do Amapá, aprovado nesta
semana em comissão do Senado,
quer tornar obrigatório que levantamentos realizados a partir do trigésimo dia anterior à eleição se
baseiem em entrevistas de pelo
menos 0,01% dos eleitores -cerca
de 13 mil na eleição presidencial,
mais do que o dobro do número de
pessoas hoje ouvidas.
Impor um universo mais amplo
não garante mais precisão. Processos amostrais adequados são
capazes de retratar o conjunto das
intenções de voto dentro da escala
atual de entrevistas. Quando inadequada, a aplicação a um número maior de eleitores apenas amplificará possíveis erros.
Não compete à lei definir a metodologia das pesquisas. Basta,
como já ocorre, exigir sua divulgação. Os eleitores têm direito à mais
ampla gama de levantamentos
possível -e aqueles que se revelarem imprecisos pagarão o preço
com sua própria credibilidade.
Só não confia nessa lógica
quem considera que o eleitorado é
incapaz de distinguir seus próprios interesses, exigindo cuidados e proteções paternalistas.
Os resultados práticos da medida seriam encarecer as pesquisas
de opinião e limitar sua frequência, com claro prejuízo para o eleitor. Enquanto isso, os partidos
continuariam a ter seus levantamentos próprios, mantidos ocultos dos cidadãos. É algo inaceitável, como toda tentativa de cercear a liberdade de informação.
Para que não reste dúvida sobre
os motivos que animam a proposta do senador, basta mencionar
que, por ela, seria compulsório
submeter os detalhes técnicos das
pesquisas -"seu plano amostral"- à aprovação prévia de "pelo menos dois terços dos candidatos em disputa".
Não satisfeito em debilitar os
eleitores, o projeto busca ampliar
a influência dos políticos. Trata-se
de clara inversão dos valores democráticos. Cabe ao Congresso
impedir que esse despautério se
transforme em lei.
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