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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Propaganda de guerra
SÃO PAULO - Já no início da madrugada de ontem, o "Jornal da
Globo" procurava atualizar os números da guerra civil carioca: tantas pessoas mortas, tantos presos,
pelo menos cinco carros queimados depois das oito da noite... O balanço do dia era devastador: escolas sem aula, comércio fechado,
pessoas aflitas ou em pânico correndo para se refugiar em casa.
Veio então o intervalo comercial.
E, com ele, a propaganda de uma
empresa de blindagem de automóveis. Anunciava "proteção ao seu
alcance", a partir de R$ 18.950, um
precinho supostamente "popular"
para os padrões do serviço.
Tratava-se de uma autêntica propaganda de guerra, do tipo "adapte
seu carro aos novos tempos" de terror urbano. Não deixa de ser mais
um capítulo, cruelmente irônico,
de uma tradição brasileira: problemas públicos, soluções privadas.
Mas deixemos de lado a proteção
fantasiosa do anúncio comercial.
Há outra propaganda de guerra nas
ruas. Ela parte do governo fluminense e ecoa em toda a mídia: a onda de violência e caos que tomou o
Rio não passa de uma reação desordenada, um sintoma de desespero
do tráfico, que começou a ser desarticulado e desalojado pelas UPPs.
Deve-se mesmo acreditar nisso?
O governador Sérgio Cabral é antes de tudo um grande marqueteiro.
Diante de tudo o que estamos vendo, à luz das cenas de uma cidade
conflagrada, é preciso no mínimo
desconfiar do discurso do êxito da
política de segurança. Sua conexão
com a realidade parece bem tênue.
O uso de blindados da Marinha
para ajudar a polícia a "subir o morro" certamente impressiona. Se alguém ainda hesitava em chamar isso de guerra, às favas com o pudor.
A população, exausta ou aterrorizada, aprova tais operações militares.
Porém, no dia em que as Forças
Armadas se envolverem no combate ao tráfico, serão inevitavelmente
contaminadas por ele. Estaremos
então mais próximos de um cenário
colombiano de narcobarbárie ou de
uma cidade, enfim, pacificada?
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