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ELIANE CANTANHÊDE
Cerco ao inimigo
BRASÍLIA - Aos poucos, passo a
passo, o Brasil vai quebrando mais
um paradigma: a exclusão das Forças Armadas para garantir, de fato,
a lei e a ordem públicas.
O Exército já participou de operações de guerra no Rio; a FAB já cedeu helicópteros para outras. E
agora a Marinha fornece seus blindados para transportar policiais entre dezenas de carros incendiados.
A resistência ao uso das Forças
Armadas contra a violência urbana
tem uma sólida argumentação,
mas essa argumentação vem perdendo força, oportunidade e conexão com a realidade à medida que
se tornam turvas as fronteiras entre
a guerra convencional e as novas
guerras (tráfico de drogas e de armas, por exemplo).
Em tese, militares são preparados para combater inimigos externos. Na prática, o Brasil combina
uma história de relações pacíficas
com os vizinhos e uma crescente
guerra interna, que vem sistematicamente derrotando a credibilidade e alquebrando o moral das polícias civis e militares nos Estados.
O reequilíbrio vem sendo feito
com sucessivas mudanças na lei 97,
de 26/6/1999, que estabelece situações, condições e limites para o uso
das três Forças na garantia da lei e
da ordem. Muda daqui, muda dali,
e elas vêm entrando cada vez mais
na defesa dos cidadãos contra as
ameaças internas, reais, e não só
contra as externas, hipotéticas.
O preparo das tropas no Haiti
vem unir a prática à teoria. Sem guinadas bruscas, para dar tempo de a
população não apenas se acostumar mas também concordar.
Diz o insuspeitado ministro de
Direitos Humanos, Paulo Vannuchi: "No Estado democrático, não
se pode ter contemplação com o crime, combate-se o crime".
Poder-se-ia acrescentar: com as
"armas" disponíveis, como Exército, Marinha e Aeronáutica, sempre
que situações excepcionais exijam
reações também excepcionais. Alguém tem dúvida de que é o que
ocorre no Rio hoje?
elianec@uol.com.br
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