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RUY CASTRO
O medo e o ódio
RIO DE JANEIRO - Voltando de viagem, encontro carros, ônibus e cabines policiais sendo tomados e incendiados por traficantes em vias
expressas e bairros do Rio. É o desafio final, a definitiva queda de braço com a lei, para decidir quem
manda na cidade -e, em breve, no
país. O Rio é o laboratório, o piloto
de provas, o campo de teste. Se ele
perder, o Brasil se prepare.
O terror, que se alimenta do medo e do ódio, está fazendo o mundo
encolher. Há dias, ao entrar e sair
de Nova York, vi o esgar de rancor
dos funcionários da imigração
americana contra os turistas -cada
qual, para eles, um possível terrorista. Por sorte, exceto pelo vexame
de ter de tirar os sapatos e desfilar
de meias rubro-negras pelo detector de metais, passei invicto pela
inspeção. Mas um antropólogo brasileiro, respeitado mundialmente,
se queixa de ter sido cheirado por
cachorros ao entrar no país via
Houston, no Texas.
Pior seria se ele, ou eu, fosse submetido à revista íntima que já rola
nos aeroportos dos EUA. A ideia de
ser apalpado nas partes por um
marmanjo numa sala reservada me
faz perguntar se vale a pena voltar
lá -e para onde vai toda uma vida
de amor dedicada a Fred Astaire.
Fico imaginando o querido Tom Jobim, que vivia na rota NY-RJ, tendo
de afrouxar as calças para ser revistado por um agente, talvez fã de
Lady Gaga. Morto em 1994, Tom
não precisou passar por isto.
Em São Paulo, ouço dizer que ficou perigoso entrar num banco ou
joalheria de shopping, a não ser
que os seguranças já disponham
daquela arma que dispara um choque de 50 mil volts no ladrão. Visitar um amigo num condomínio ou
prédio no Morumbi tornou-se uma
atividade de risco. E dirigir à noite
em meio aos "noias" do centro da
cidade é agora ato de heroísmo.
As cidades têm um urgente desafio: impor a lei e mostrar que a principal arma dos criminosos é o medo
que instilam nos cidadãos.
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