São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2010

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RUY CASTRO

O medo e o ódio

RIO DE JANEIRO - Voltando de viagem, encontro carros, ônibus e cabines policiais sendo tomados e incendiados por traficantes em vias expressas e bairros do Rio. É o desafio final, a definitiva queda de braço com a lei, para decidir quem manda na cidade -e, em breve, no país. O Rio é o laboratório, o piloto de provas, o campo de teste. Se ele perder, o Brasil se prepare.
O terror, que se alimenta do medo e do ódio, está fazendo o mundo encolher. Há dias, ao entrar e sair de Nova York, vi o esgar de rancor dos funcionários da imigração americana contra os turistas -cada qual, para eles, um possível terrorista. Por sorte, exceto pelo vexame de ter de tirar os sapatos e desfilar de meias rubro-negras pelo detector de metais, passei invicto pela inspeção. Mas um antropólogo brasileiro, respeitado mundialmente, se queixa de ter sido cheirado por cachorros ao entrar no país via Houston, no Texas.
Pior seria se ele, ou eu, fosse submetido à revista íntima que já rola nos aeroportos dos EUA. A ideia de ser apalpado nas partes por um marmanjo numa sala reservada me faz perguntar se vale a pena voltar lá -e para onde vai toda uma vida de amor dedicada a Fred Astaire. Fico imaginando o querido Tom Jobim, que vivia na rota NY-RJ, tendo de afrouxar as calças para ser revistado por um agente, talvez fã de Lady Gaga. Morto em 1994, Tom não precisou passar por isto.
Em São Paulo, ouço dizer que ficou perigoso entrar num banco ou joalheria de shopping, a não ser que os seguranças já disponham daquela arma que dispara um choque de 50 mil volts no ladrão. Visitar um amigo num condomínio ou prédio no Morumbi tornou-se uma atividade de risco. E dirigir à noite em meio aos "noias" do centro da cidade é agora ato de heroísmo.
As cidades têm um urgente desafio: impor a lei e mostrar que a principal arma dos criminosos é o medo que instilam nos cidadãos.


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