UOL




São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A ARGENTINA E O FMI

O relacionamento entre a Argentina e o Fundo Monetário Internacional deixa a nu aspectos perversos da lógica que preside os ajustes patrocinados pela instituição.
O país, que adotou medidas opostas às previstas pelo Fundo, acabando com a conversibilidade do peso, declarando moratória da dívida externa e dando prioridade à retomada do crescimento, é agora pressionado a transferir aos credores os ganhos de sua incipiente recuperação.
A economia argentina cresceu 7,3% em 2003, segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe). Os investimentos foram o componente mais dinâmico da demanda doméstica. O desemprego caiu, a arrecadação subiu e aumentaram as exportações e importações. Tudo isso ocorreu num contexto de conflito com os interesses imediatos do sistema financeiro internacional. Os primeiros sinais, porém, de que talvez a Argentina esteja deixando o fundo do poço foram suficientes para estimular entre os credores a ânsia de recuperar perdas.
O FMI, prestando contas a esses interesses, pressiona por um aumento do esforço fiscal, que pelo acordo em vigor é de 3% do PIB.
No Brasil, a meta de superávit primário das contas públicas é de 4,25% do PIB. O país recentemente fechou novo compromisso com a instituição, em circunstâncias curiosas: o presidente da República inadvertidamente declarou que o acordo só seria aprovado após seu retorno de uma viagem ao exterior. Debalde, pois, como se constatou, o acerto já se encontrava definido.
O Fundo quer na Argentina um modelo análogo ao brasileiro, mas o presidente Kirchner resiste. O óbvio propósito dos credores é reduzir perdas. Paradoxalmente, porém, as dívidas foram contraídas justamente com aqueles governos que renovavam juras de fidelidade ao FMI e mereciam seu apoio -com os resultados hoje conhecidos.


Texto Anterior: Editoriais: O EFEITO VACA LOUCA
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Fome de competência
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.