|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
KENNEDY ALENCAR
É o juro, estúpido!
BRASÍLIA - Em economês, é comum ouvir que há descoordenação
entre as políticas fiscal e monetária
do governo Lula. O português permite traduções ao gosto do freguês.
Uma delas: Lula é obrigado a gastar mais do que recomenda a boa
governança a fim de esquentar a
economia, porque tem um Banco
Central conservador, que mantém
os juros mais altos do que o necessário para controlar a inflação, o
que esfria a economia. Cria-se, então, a escalada em que Lula gasta
mais e o BC pesa a mão nos juros.
Noutra tradução, o responsável
BC usa a ferramenta mais forte que
possui (juros altos) porque Lula
gasta muito quando deveria poupar
mais. Um maior esforço fiscal criaria espaço para redução dos juros
mais altos do planeta. A taxa básica
(Selic) está em 13,75% ao ano. Nos
EUA, a taxa, na prática, é zero.
Até setembro, quando a crise econômica internacional se agravou,
havia um pouco de verdade em ambas as leituras. De lá para cá, a economia mudou. As perspectivas de
geração e manutenção do nível de
emprego não são boas. No arsenal
de combate à crise, Lula já gastou e
prometeu gastar quase tudo o que
podia. Persistir nesse caminho será
um erro. Entre os preços fora da
realidade na economia brasileira,
os juros ocupam o primeiro lugar.
Por muito tempo, o BC vendeu a
tese de que o Brasil não podia crescer mais do que 3,5% ao ano sem
risco de alta da inflação. Os dados
de 2007 e 2008 minaram tal tese.
A tese da hora é a possibilidade de
a valorização do dólar gerar inflação. O BC adora um populismo
cambial (real forte/dólar fraco) para controlar a inflação, mesmo a um
custo alto para a produção.
Se Lula deseja mesmo tentar
crescer 4% em 2009, não tem jeito.
Será preciso baixar os juros. Nos
bastidores, ele dá mostras de que
está disposto a cobrar essa fatura do
BC. Nunca antes na história deste
país houve ambiente tão propício
para chegarmos a um taxa civilizada. A crise espantou, por ora, as
pressões inflacionárias internas e
externas.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Bonitas banalidades Próximo Texto: Rio de Janeiro - Fernando Gabeira: Quem diria, 2008 Índice
|