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FERNANDO GABEIRA
Quem diria, 2008
RIO DE JANEIRO - Todos os anos
faço um balanço, tiro conclusões.
Em 2008 fico devendo. Depois de
uma campanha eleitoral de seis meses, parei alguns dias para estudar e
concluí: o mundo em que vivia, sob
muitos aspectos, já não existe mais.
Todos prevíamos um tipo de crise. Aterrissagem suave ou dura nos
EUA? Até que ponto vão se endividar mais? Não previ o quase colapso
do sistema. Não vou me culpar por
isso; os economistas também falharam. Há sempre a tentação de empurrar a própria agenda na crise.
Energia, sustentabilidade, redução
de emissões.
Os que optam pelo Estado anunciam sua volta triunfal. Lembram-me um ministro húngaro: antes uns
fanáticos nos garantiam que o Estado resolve tudo; agora vieram outros fanáticos, dizendo que o mercado resolve tudo. É a melhor combinação dos dois que está em jogo.
Se a economia nos chocou, a política nos encheu de esperança. Teremos de novo os Estados Unidos na
luta contra o aquecimento, renovando em energia, empenhando-se
conosco nas soluções diplomáticas
para os conflitos no mundo. Obama
escolheu dois homens capazes para
ciência e para energia.
Evitei discutir 68. Indiretamente,
acertei. Tanto falamos de 68 em
2008 e não sabíamos ainda do surgimento de uma crise que só acontece duas vezes num século. Talvez
tenhamos de começar a contar
também os aniversários desse ano.
Nele as coisas vieram da economia,
que mexe com a sobrevivência. Em
68, emergiam as questões ligadas à
liberdade. Necessidade e liberdade,
outra combinação delicada.
Obama é uma referência mundial. Até que ponto vai domar a crise, achar novos caminhos, combinar a necessidade de decidir com o
reconhecimento de que nem tudo
está claro? Tarefas para um novo
tempo. E um novo tipo de governo:
mais aberto à vida real.
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