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Malan e Serra
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Há algo no ar além de
aviões de carreira, medicamentos e indústria nacional. Pelo menos nessa
mais recente, e também mais aberta,
disputa entre os ministros Pedro Malan (Fazenda) e José Serra (Saúde).
Os dois não se bicam desde o início
do primeiro mandato, mas raramente
Serra partiu para o ataque tão pública
e ostensivamente. Agora, sob o pretexto do controle de preço de remédios.
Isolando os motivos objetivos e analisando os motivos políticos, descobre-se rapidamente que eles também são
muitos e profundos.
Serra sempre foi, mas está cada vez
mais candidato à Presidência da República. Malan pode até não ter sido,
mas vem sendo cada vez mais citado
como candidato à Presidência da República. Como disputam a cadeira,
disputam também os amores de FHC.
Se no primeiro mandato havia a
economia no meio do caminho, agora
há a política e a perspectiva de poder.
Há o passado e há também o futuro.
Malan e Serra são antagônicos em
uma série de coisas. Um é calado, o outro, falante; um é tímido, o outro, abusado; um obedece ordens, o outro
manda; um é tecnocrata, o outro, político; um é neoliberal convicto, o outro
ainda tem uma queda "cepalina"
(meio Cepal, meio nacionalista).
Em comum, eles só têm uma coisa,
adquirida nesses mais de seis anos de
convivência forçada em Brasília e sob
o guarda-chuva e a velha ambiguidade do chefe FHC: são, hoje, os homens-chave do governo.
Malan mantém o controle da economia, Serra se mete em absolutamente
tudo: faz e desfaz ministros, apita até
no Ministério da Defesa.
Enquanto havia crise, desvalorização cambial, ameaça externa, tremeliques, havia um consenso generalizado
de que Malan precisava ser preservado. Aparentemente, Serra participava
desse consenso.
Hoje, porém, a rede de proteção pode
estar sendo abandonada, por desnecessária. Com as coisas mais ou menos
em ordem, interna e externamente,
chegou a hora de os adversários voltarem à carga contra Malan?
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