São Paulo, Quinta-feira, 27 de Janeiro de 2000


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Malan e Serra

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Há algo no ar além de aviões de carreira, medicamentos e indústria nacional. Pelo menos nessa mais recente, e também mais aberta, disputa entre os ministros Pedro Malan (Fazenda) e José Serra (Saúde).
Os dois não se bicam desde o início do primeiro mandato, mas raramente Serra partiu para o ataque tão pública e ostensivamente. Agora, sob o pretexto do controle de preço de remédios.
Isolando os motivos objetivos e analisando os motivos políticos, descobre-se rapidamente que eles também são muitos e profundos.
Serra sempre foi, mas está cada vez mais candidato à Presidência da República. Malan pode até não ter sido, mas vem sendo cada vez mais citado como candidato à Presidência da República. Como disputam a cadeira, disputam também os amores de FHC.
Se no primeiro mandato havia a economia no meio do caminho, agora há a política e a perspectiva de poder. Há o passado e há também o futuro.
Malan e Serra são antagônicos em uma série de coisas. Um é calado, o outro, falante; um é tímido, o outro, abusado; um obedece ordens, o outro manda; um é tecnocrata, o outro, político; um é neoliberal convicto, o outro ainda tem uma queda "cepalina" (meio Cepal, meio nacionalista).
Em comum, eles só têm uma coisa, adquirida nesses mais de seis anos de convivência forçada em Brasília e sob o guarda-chuva e a velha ambiguidade do chefe FHC: são, hoje, os homens-chave do governo.
Malan mantém o controle da economia, Serra se mete em absolutamente tudo: faz e desfaz ministros, apita até no Ministério da Defesa.
Enquanto havia crise, desvalorização cambial, ameaça externa, tremeliques, havia um consenso generalizado de que Malan precisava ser preservado. Aparentemente, Serra participava desse consenso.
Hoje, porém, a rede de proteção pode estar sendo abandonada, por desnecessária. Com as coisas mais ou menos em ordem, interna e externamente, chegou a hora de os adversários voltarem à carga contra Malan?


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