São Paulo, Quinta-feira, 27 de Janeiro de 2000


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O amigo de Benedita

MÁRIO MAGALHÃES


Rio de Janeiro - Repousa numa gaveta do Laboratório de Fonética da Unicamp um cassete de microgravador, acomodado numa caixa plástica transparente maior, própria para fitas grandes, as mais comuns.
O conteúdo da gravação é conhecido e controverso. O PT e sua provável candidata à Prefeitura do Rio, a vice-governadora Benedita da Silva, deveriam ser os paladinos da elucidação da trama. Não parece ser o que ocorre.
Pouco antes da convenção estadual petista de outubro, foi divulgada uma conversa do ex-deputado Ernani Coelho com dois delegados ao encontro.
Amigo de Benedita, ele é assessor do secretário de Planejamento, Jorge Bittar, aliado da vice-governadora nas contendas intestinas do partido.
Na fita gravada na moita pelos interlocutores, Coelho se dirige aos integrantes de um agrupamento petista rival. Segundo os militantes, para comprar apoio na disputa interna.
Oferece, registra o cassete, R$ 400 mensais e empregos na Fundação Leão 13, administrada pelo Estado.
Coelho disse que a conversa foi editada. Conseguiu abafar o caso na convenção. Ontem, preferiu calar.
Há dez dias, dois enviados do PT entregaram a fita à Unicamp. O partido recebeu de volta um fax em que a universidade apela, pelo menos, por um ofício pedindo a autenticação -nem isso foi deixado em Campinas.
Em 1992, descobriu-se que filhos de Benedita da Silva lançaram mão de diplomas falsos para trabalhar na Câmara do Rio. Resultado: ela perdeu a eleição carioca para César Maia.
Não há indício de que Ernani Coelho tenha oferecido emprego público autorizado por sua líder. Nem prova de que a fita não seja uma armação.
O PT só terá a ganhar se, em vez de empurrar com a barriga, apurar de fato o que houve. Nem que seja para atenuar a impressão de mimetizar com despudor aqueles que critica.
Ou para Benedita dizer que ignorava a tramóia -o que pode ser verdade. Acreditar ou não será um dilema para os eleitores de outubro.


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