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O amigo de Benedita
MÁRIO MAGALHÃES
Rio de Janeiro - Repousa numa gaveta do Laboratório de Fonética da Unicamp um cassete de microgravador,
acomodado numa caixa plástica
transparente maior, própria para fitas
grandes, as mais comuns.
O conteúdo da gravação é conhecido
e controverso. O PT e sua provável
candidata à Prefeitura do Rio, a vice-governadora Benedita da Silva, deveriam ser os paladinos da elucidação
da trama. Não parece ser o que ocorre.
Pouco antes da convenção estadual
petista de outubro, foi divulgada uma
conversa do ex-deputado Ernani Coelho com dois delegados ao encontro.
Amigo de Benedita, ele é assessor do
secretário de Planejamento, Jorge Bittar, aliado da vice-governadora nas
contendas intestinas do partido.
Na fita gravada na moita pelos interlocutores, Coelho se dirige aos integrantes de um agrupamento petista rival. Segundo os militantes, para comprar apoio na disputa interna.
Oferece, registra o cassete, R$ 400
mensais e empregos na Fundação
Leão 13, administrada pelo Estado.
Coelho disse que a conversa foi editada. Conseguiu abafar o caso na convenção. Ontem, preferiu calar.
Há dez dias, dois enviados do PT entregaram a fita à Unicamp. O partido
recebeu de volta um fax em que a universidade apela, pelo menos, por um
ofício pedindo a autenticação -nem
isso foi deixado em Campinas.
Em 1992, descobriu-se que filhos de
Benedita da Silva lançaram mão de
diplomas falsos para trabalhar na Câmara do Rio. Resultado: ela perdeu a
eleição carioca para César Maia.
Não há indício de que Ernani Coelho tenha oferecido emprego público
autorizado por sua líder. Nem prova
de que a fita não seja uma armação.
O PT só terá a ganhar se, em vez de
empurrar com a barriga, apurar de fato o que houve. Nem que seja para atenuar a impressão de mimetizar com
despudor aqueles que critica.
Ou para Benedita dizer que ignorava a tramóia -o que pode ser verdade. Acreditar ou não será um dilema
para os eleitores de outubro.
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