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CLÓVIS ROSSI
Pensando o impensável
SÃO PAULO - Suspeito de que esteja na hora de discutir a sério a participação das Forças Armadas na segurança pública ou, mais precisamente,
no combate ao narcotráfico, que, por
sua vez, é a principal fonte de renda
do crime organizado.
Sempre tive a mais absoluta resistência à idéia, mas o esquema mental
que gerava a resistência pertence a
um outro tempo e aplicava-se a circunstâncias bem diferentes.
Agora, a própria ONU dá uma base
para a discussão: "Organizações de
tráfico de droga ameaçam a ordem
pública na maioria dos países da região andina e no Brasil", de acordo
com o relatório anual do Conselho
Internacional de Controle de Narcóticos, divulgado anteontem.
Ordem pública, ainda mais quando ela é afetada por fatores que ficam, em parte, do outro lado das
fronteiras, não é uma questão que diz
respeito às Forças Armadas?
Segundo argumento, também tirado do mesmo relatório: o Brasil é o
primeiro colocado em exportação para a Colômbia de produtos químicos
(solvente e éter, por exemplo) usados
para transformar pasta de coca em
cocaína para consumo.
Alguém acredita que a polícia (federal ou estadual, civil ou militar) seja de fato capaz de controlar esse tráfico, vital para o bilionário negócio
da cocaína?
Há uma pilha de argumentos contra utilizar os militares nesse tipo de
atividade. Como são conhecidos,
nem é preciso listá-los.
Há ainda o fato de que a faceta policial do combate ao narcotráfico e ao
crime organizado não pode substituir políticas sociais que ofereçam alternativas aos jovens e impeçam o
seu recrutamento pelo crime.
Mesmo assim, a gravidade da situação exige que ao menos se pense
no que era até agora impensável. Se a
segurança pública continuar funcionando no piloto automático, a guerra estará perdida.
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