UOL




São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Pensando o impensável

SÃO PAULO - Suspeito de que esteja na hora de discutir a sério a participação das Forças Armadas na segurança pública ou, mais precisamente, no combate ao narcotráfico, que, por sua vez, é a principal fonte de renda do crime organizado.
Sempre tive a mais absoluta resistência à idéia, mas o esquema mental que gerava a resistência pertence a um outro tempo e aplicava-se a circunstâncias bem diferentes.
Agora, a própria ONU dá uma base para a discussão: "Organizações de tráfico de droga ameaçam a ordem pública na maioria dos países da região andina e no Brasil", de acordo com o relatório anual do Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, divulgado anteontem.
Ordem pública, ainda mais quando ela é afetada por fatores que ficam, em parte, do outro lado das fronteiras, não é uma questão que diz respeito às Forças Armadas?
Segundo argumento, também tirado do mesmo relatório: o Brasil é o primeiro colocado em exportação para a Colômbia de produtos químicos (solvente e éter, por exemplo) usados para transformar pasta de coca em cocaína para consumo.
Alguém acredita que a polícia (federal ou estadual, civil ou militar) seja de fato capaz de controlar esse tráfico, vital para o bilionário negócio da cocaína?
Há uma pilha de argumentos contra utilizar os militares nesse tipo de atividade. Como são conhecidos, nem é preciso listá-los.
Há ainda o fato de que a faceta policial do combate ao narcotráfico e ao crime organizado não pode substituir políticas sociais que ofereçam alternativas aos jovens e impeçam o seu recrutamento pelo crime.
Mesmo assim, a gravidade da situação exige que ao menos se pense no que era até agora impensável. Se a segurança pública continuar funcionando no piloto automático, a guerra estará perdida.


Texto Anterior: Editoriais: MUDANÇA DE IMAGEM

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Dificuldades em família
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.