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ELIANE CANTANHÊDE
Dificuldades em família
BRASÍLIA - A imagem de seis ministros sentados ao lado de representantes de 13 entidades sindicais do funcionalismo não deixa de ser inovadora e edificante. Principalmente porque ninguém gritou, socou a mesa ou
virou a cara e se retirou. Pelo contrário, parecia confraternização de amigos. Talvez fosse mesmo.
A questão é que, se o discurso do PT
e do funcionalismo em geral sempre
coincidiu, os interesses do governo do
PT e do mesmo funcionalismo são
muito diferentes a partir de agora.
Um não tem dinheiro, e o outro exige
aumento. É aí que mora o perigo.
O corporativismo sindical foi um
dos maiores adversários do governo
de Cristovam Buarque (PT) em Brasília, do governo de Vitor Buaiz (então PT) no Espírito Santo e da prefeitura de Luiza Erundina (também então do PT) em São Paulo.
Buarque amargou 70 dias de greve
de professores logo no início, Buaiz
saiu desgastado do governo, do partido e da vida pública, Erundina foi
tratada como adversária pelos que
mais lhe deviam solidariedade.
Dando um pulo no tempo: as várias
categorias de servidores ficaram oito
anos a ver navios e votaram maciçamente contra FHC e a favor de Lula
nas eleições de 2002. Basta ver o resultado das eleições no Rio, meca do
funcionalismo até hoje, mais de 40
anos depois da mudança da capital.
Todo cuidado é pouco, portanto.
Lula e os seis ministros que fizeram
sala ontem para os representantes da
categoria acenam com 4% de reajuste para quem reivindica 46,95%.
Logo agora, quando vêm aí o Primeiro de Maio (dia do trabalhador e
do reajuste do salário mínimo), a reforma da Previdência (que atinge os
servidores) e o já famoso PL-9 (para
garfar algum dos futuros funcionários). E com aumento de inflação, de
desemprego e de tarifas.
Nos governos FHC, não tinha papo.
No governo Lula, papo há. O que não
havia e não há é algo bem mais concreto: a grana para acomodar os interesses de toda a família. Por enquanto, estão todos bem educados. Mas
nunca se sabe até quando.
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