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São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Dificuldades em família

BRASÍLIA - A imagem de seis ministros sentados ao lado de representantes de 13 entidades sindicais do funcionalismo não deixa de ser inovadora e edificante. Principalmente porque ninguém gritou, socou a mesa ou virou a cara e se retirou. Pelo contrário, parecia confraternização de amigos. Talvez fosse mesmo.
A questão é que, se o discurso do PT e do funcionalismo em geral sempre coincidiu, os interesses do governo do PT e do mesmo funcionalismo são muito diferentes a partir de agora. Um não tem dinheiro, e o outro exige aumento. É aí que mora o perigo.
O corporativismo sindical foi um dos maiores adversários do governo de Cristovam Buarque (PT) em Brasília, do governo de Vitor Buaiz (então PT) no Espírito Santo e da prefeitura de Luiza Erundina (também então do PT) em São Paulo.
Buarque amargou 70 dias de greve de professores logo no início, Buaiz saiu desgastado do governo, do partido e da vida pública, Erundina foi tratada como adversária pelos que mais lhe deviam solidariedade.
Dando um pulo no tempo: as várias categorias de servidores ficaram oito anos a ver navios e votaram maciçamente contra FHC e a favor de Lula nas eleições de 2002. Basta ver o resultado das eleições no Rio, meca do funcionalismo até hoje, mais de 40 anos depois da mudança da capital.
Todo cuidado é pouco, portanto. Lula e os seis ministros que fizeram sala ontem para os representantes da categoria acenam com 4% de reajuste para quem reivindica 46,95%.
Logo agora, quando vêm aí o Primeiro de Maio (dia do trabalhador e do reajuste do salário mínimo), a reforma da Previdência (que atinge os servidores) e o já famoso PL-9 (para garfar algum dos futuros funcionários). E com aumento de inflação, de desemprego e de tarifas.
Nos governos FHC, não tinha papo. No governo Lula, papo há. O que não havia e não há é algo bem mais concreto: a grana para acomodar os interesses de toda a família. Por enquanto, estão todos bem educados. Mas nunca se sabe até quando.


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