|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
A máxima culpa
RIO DE JANEIRO - Logo após o término do último conflito mundial, os
meios acadêmicos discutiram à
exaustão a tese da responsabilidade
coletiva. Diante dos horrores do nazismo, ficou difícil atribuir tamanha
selvageria a um só homem.
Há defensores da responsabilidade
coletiva de todo um povo ou de toda
a humanidade nos males que provocam a cólera dos deuses e revelam a
insânia dos homens.
A acreditar nos relatos do Velho
Testamento, o Dilúvio foi uma prova
dessa responsabilidade coletiva, salvando-se Noé, sua família e os animais, um casal de cada espécie. O resto foi mesmo tragado pelas cataratas
do céu.
Em Sodoma e Gomorra também tivemos a responsabilidade coletiva,
que sepultou duas cidades no fogo,
salvando-se Lot -cuja mulher olhou
para trás e foi transformada em estátua de sal e o próprio Lot transformando-se num tipo de pão que, aliás,
eu não aprecio.
Esses fatos parecem dar razão à teoria da culpa coletiva. E aí encaixo a
possibilidade de uma culpa também
coletiva nessa onda de violência que
atravessamos.
Na última segunda-feira, passando
pelo Leme, no final da tarde, vi todo o
comércio fechado. Oficialmente, um
bando de traficantes espalhou o terror na cidade. Mas a culpa seria apenas deles? Ou do Estado? Ou de todos
nós, que já nos habituamos à banalidade do crime?
No plano internacional, é fácil catalogar o presidente Bush como um
desvairado, um monstro de insensibilidade. Mas, por trás de Bush, há
milhões de pessoas que pensam como
ele e que querem beber petróleo, ainda que com gosto de sangue.
De minha parte, aprendi a bater no
peito e a confessar a minha culpa, a
minha máxima culpa.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Dificuldades em família Próximo Texto: Otavio Frias Filho: Guerra e paz Índice
|