São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A "quebra" das empresas de energia
CARLOS AUGUSTO KIRCHNER
A Aneel, cúmplice da crise que assola o setor, tem tomado atitudes tímidas para solucionar o problema. Tentou vender a quebrada Cemar, distribuidora do Estado do Maranhão, abandonada pelo seu controlador privado norte-americano; omitiu-se em relação à falência da Enron, controladora da distribuidora paulista Elektro; e finge não ver a grave situação da Eletropaulo. Por meio da resolução nš 20/99, a agência desobrigou as empresas de solicitar autorização para venda de ativos. Assim, a Eletropaulo está acabando com o seu patrimônio sem que o poder concedente tome qualquer providência. A Lei de Concessões prevê, no caso de inadimplência do concessionário, a declaração de caducidade. Por essa via, a concessão é extinta e reverte ao poder público sem que este tenha de se responsabilizar por obrigações contraídas pelo controlador privado, inclusive com os empregados. Ele teria direito apenas à indenização dos investimentos não amortizados ou depreciados. Entretanto a Aneel tem negligenciado esse instrumento -o que pode gerar grandes prejuízos aos cofres públicos. No caso da Eletropaulo, por exemplo, se o BNDES simplesmente assumir o controle da empresa pelas ações entregues como garantia do financiamento, levará no pacote as dívidas e mazelas praticadas pela companhia enquanto estava privatizada. Ainda que o governo possa assumir alguns dos encargos (financiamento no BNDES, quitações trabalhistas anteriores etc.), descontando da indenização o valor correspondente, não faz sentido que herde dívidas da Eletropaulo com sua matriz ou obrigações de algum tipo de transferência de recursos entre empresas do mesmo grupo. O quadro exige que se faça uma ampla auditoria nas distribuidoras para verificar a situação financeira de cada uma delas. Aquelas que estiverem infringindo a Lei de Concessões deverão ter declarada a caducidade de seu contrato. Da mesma forma, empresas que desviam dinheiro para outras finalidades não podem continuar operando. O poder concedente deve zelar pelo serviço público. Caso contrário, as tarifas seguirão aumentando e o problema não será a quebra das empresas, mas do país. Carlos Augusto Ramos Kirchner é diretor do Seesp (Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo) e do Ilumina - Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES José Goldemberg e Fernando Rei: O futuro agradece Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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