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VINICIUS TORRES FREIRE
Tão podre, tão cedo
SÃO PAULO - Aos 21 anos de democracia, quase 18 de Constituição, as
instituições parecem incapazes de reforma, de si mesmas e do país. Chegamos, enfim, ao clichê tantas vezes
proclamado por ninharias, mas agora de cogitação razoável, da crise institucional? Pode ser, mas convém evitar farisaísmos e udenismos como
atribuir a crise a corrupções apenas.
Há menos de 20 anos o país nem sabia o quanto e como gastava, pois as
contas públicas eram uma confusão
permissiva e aberta à rapinagem bilionária. Há 12 anos a hiperinflação
dissolvia a economia e a bolsa dos
mais pobres. O país fechado favorecia
a corrupção no comércio exterior e a
exploração do consumidor.
A dimensão de tais desvios e saques, ora esquecida, era incomparavelmente maior que a corrupção conhecida ou suspeitada hoje em dia.
O que hoje parece mais sério é a
conjunção da paralisia dos movimentos sociais com a captura das instituições pelo interesse menor de estamentos e classes. Como catalisadores
da deterioração, há o renitente reacionarismo socioeconômico e a dissolução do conflito social em crime.
O Banco Central, nem autônomo
nem sujeito ao controle democrático,
foi capturado de maneira descarada
pelo interesse da banca. Ao menos
metade do Congresso está à venda ou
aceita tal comércio. Juízes supremos
fazem da toga trampolim político; o
juizado estadual considera o Judiciário patrimônio familiar.
O partido popular, o PT, foi dominado pelo sindicalismo de rapina; os
sindicatos são pelegos. O lulismo patrocina conspirações de Estado policial. A oposição, o PSDB, não prestou
contas da ruína fiscal que promoveu
para manter-se no poder e fazer privatizações porcas. Fundos sociais são
capturados pela classe média e alta.
Gestão da moeda e da economia,
representação popular e justiça estão
à beira de colapsos, apesar de reformas pontuais, remendos.
A Constituição está puída. A reforma essencial, a da miséria, está bloqueada por instituições que nem dão
conta de colocar o país no andamento liberal, da rotina democrática.
@ - vinit@uol.com.br
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