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CLÓVIS ROSSI
Estatizar o Estado
SÃO PAULO - Poucas coisas contam tanto a respeito do colossal retrocesso do Brasil como o fato de
que três de seus principais governadores foram à Colômbia tomar lições de como tratar a questão da segurança pública.
A Colômbia era sinônimo de violência absurda até muito recentemente. Brasileiro que quisesse se
informar a respeito do tema iria a
Nova York, talvez à Europa, jamais
a qualquer país latino-americano,
menos ainda à Colômbia.
Mesmo agora, com os bons resultados obtidos no combate à criminalidade, o país vizinho está muito
longe de ser modelo. No entanto,
como o Brasil é, nesse capítulo (e
em tantos outros), a mais perfeita
esculhambação, até a Colômbia serve como professora.
Serve até bem, se se prestar atenção às declarações do ex-prefeito de
Bogotá no período 1998/01, Enrique Peñalosa, na entrevista a Sergio
Torres, desta Folha.
Disse Peñalosa, graduado na Universidade de Duke (EUA), com
mestrado em métodos de gestão
pela Universidade de Paris:
"Se o Estado não tem autoridade
moral, não teremos -os governantes- o respaldo dos cidadãos para
que se baixe a criminalidade. Isso
vale para aqui e para o Brasil. Quando não há legitimidade, se passam
coisas graves. Não se obedecem às
leis, não se cumprem as normas".
Bingo. O Estado brasileiro perdeu a autoridade moral já faz algum
tempo. Não saberia em que momento a perdeu, mas é um fato. Como é visível a olho nu que, no Brasil, "não se obedecem às leis, não se
cumprem as normas", das mais elementares às mais vitais.
O diabo é que não está à vista nenhuma ação para devolver ao Estado a autoridade moral perdida.
Na prática, ele foi privatizado para uma classe política que, com
uma ou outra exceção, trabalha para ela própria. Não estaria na hora
de devolver o Estado a seu dono, o
cidadão brasileiro?
crossi@uol.com.br
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