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ELIANE CANTANHÊDE
Multiplicação de aliados
BRASÍLIA - A cada pesquisa de
popularidade, Lula fica ainda mais
vaidoso, mais falastrão e mais desinibido para fazer o que quiser, sem
se considerar obrigado a dar satisfação de qualquer coisa para quem
quer que seja.
Os números do Datafolha no último domingo certamente vêm reforçar ainda mais esse lado de Lula
que desabrochou com o poder e que
veio para ficar. Apesar da queda de
52% para 48% nos índices de ótimo
e bom, especialmente entre os mais
pobres, menos escolarizados e do
Nordeste (menos 9%), Lula manteve no Datafolha uma expressiva
aprovação para um presidente em
segundo mandato.
Mensalão? Quebra de sigilo do
caseiro? Compra de dossiê? A queda dos principais homens do poder
como num castelo de cartas? Ninguém lembra mais disso, como ninguém faz a menor questão de ficar
discutindo a responsabilidade do
governo no apagão aéreo, na crise
de segurança, nas quedas preocupantes do desempenho na educação, no PIB quase haitiano (apesar
de recauchutado).
Insuflado pela aprovação popular, pela falta de crítica e pela até
perplexidade da oposição, Lula se
sente cada vez mais liberado e em
estado de "eu posso tudo". Pode dizer que usineiro é herói, que Collor
fará um mandato "excepcional",
que Putin "ficou meio putin" e que
as relações Brasil-EUA estão atingindo o "ponto G".
Já imaginou se fosse qualquer
outro presidente falando esse tipo
de barbaridade? Mas Lula é Lula, e
tudo o que parte dele é automaticamente apoiado, ou perdoado. O ridículo vira "estilo popular".
Como também pode nomear
Geddel Vieira Lima ministro de
qualquer coisa, trocar juras de
amor com Collor e Inocêncio, liberar o PT para articulações incríveis
com Maluf. Só falta a reconciliação
com Roberto Jefferson.
Lula se sente o rei da cocada preta. Talvez seja mesmo.
elianec@uol.com.br
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