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CARLOS HEITOR CONY
O Brasil e o jeito
RIO DE JANEIRO - "O Brasil não
tem jeito". Umas pelas outras, as
principais colunas do jornalismo
brasileiro, e sobretudo as cartas dos
leitores às redações e os desabafos
irritados vindos pela internet, acentuam a característica nacional de
não ter "jeito", no sentido de que
nada muda em nosso DNA. Não
adianta fazer muita força, porque
não temos vergonha na cara, não temos jeito, enfim.
No fundo, temos jeito até demais,
independente daquele jeitinho incorporado em nossa vida pública e
particular. Há sempre um jeitinho
para obras sem licitação, aumento
de despesa fora do orçamento, perdão fiscal para isso e aquilo. Na vida
de cada cidadão, os descontos no
Imposto de Renda, a conversa com
o guarda que quer multar porque
estacionamos em local proibido.
Um dos argumentos que usamos
para expressar o nosso jeito é lembrar que "estamos no Brasil", e não
na Suécia, onde os pedestres só
atravessam as ruas nas faixas e as
cerimônias começam e acabam na
hora combinada.
Há países que conseguem a proeza de serem mais desorganizados
do que o Brasil, mas nem sempre
dão certo, com exceção talvez da
Itália. Musssolini dizia que não era
difícil governar os italianos, era inútil. Não chegamos a isso, tampouco
chegamos ao Primeiro Mundo a
que, bem ou mal, a Itália chegou,
apesar da desastrada guerra em que
se meteu do lado errado.
Nesse ponto, o jeitinho nos livra
de quebrar a cara por aí, no atacado.
Quebramos a cara no varejo, mas
vamos em frente, reclamando do
jeitinho dos outros e praticando o
nosso próprio jeitinho em causa
própria.
Bom exemplo desse jeitinho foi
dado agora por Lula para formar o
ministério. Por pouco não mandava
Marta Suplicy para a embaixada no
Vaticano. Mandou-a para o Turismo, que vem a dar mais ou menos
na mesma.
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